sexta-feira, 31 de julho de 2015

Findando



Quinta se foi

Sexta está

Sábado virá

Comendo a semana

Cevando o Domingo

Pra recomeçar


Joakim Antonio


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Simplificando - Descortinando Mario Quintana (poeta)



Quando saía à rua,
evocava Tolstói.
Fugia de casa,
aberto a caminhos,
seguindo
alma e coração.
Num momento inesperado,
ele chegou.
Veio ao mundo
já sabendo,
que o tempo,
não passa de ilusão.
Farmacêutico da vida,
receitou o simples.
Letras certeiras
são remédio, que
descomplicam dores,
sem remediação.
A linha do seu destino,
o poeta escreveu.
Desde menino,
dando mão ao sonho,
fez da vida
linda canção.

Joakim Antonio



A verdadeira arte de viajar 

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, 
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. 
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... 
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando! 


(Quintana in “A cor do invisível”) 





Mario Quintana nasceu em Alegrete, dia 30 de julho de 1906 e, com 20 anos, vem morar em Porto Alegre. Morou no Hotel Majestic de 1968 a 1980.

Publicou mais de 20 livros, sem contar as antologias. O primeiro, aos 34 anos, “A Rua dos Cataventos”. O último, em 1990 “Velório sem Defunto”. Com Sapato Florido, Pé de Pilão, Caderno H, Esconderijos do tempo, Lili inventa o mundo, consagrou-se como poeta do cotidiano e lirismo, e um dos ícones da literatura brasileira.

Poeta, jornalista e tradutor, trabalhou nos Jornais O Estado do Rio Grande e no Correio do Povo (com sua coluna Caderno H). Como tradutor, notabilizou-se com sua impecável tradução de Proust. Traduziu a literatura européia, como Giovani Papini, Virginia Woolf, Voltaire, entre outros.

Morreu em 5 de maio de 1994, aos 87 anos, imortalizado pela Casa de Cultura que leva seu nome e, principalmente, pelo Quarto do Poeta, uma reconstituição fiel com móveis e objetos pessoais do escritor.

Clique Aqui para visitar o site, criado comemoração aos 100 anos do poeta.


Imagem 1: Quarto V by  Itamar Aguiar


Imagem 2: CCMQ by Liane Neves

Vórtice imaginativo - Descortinando Ezra Pound (poeta)

Ezra Pound by Jericob 
Já é esperado do Poeta
SABER. Navegar em rumos
certos de IN_certas
palavras que sempre foram.
Vivendo a deriva nesse barquinho
enfeitado de crostas, ViVas.
Signos.inertes.se.aglutinando
para formar um quase chão.

NO corpo das palavras,
somatótipos diversos.
No verso do rosto,
ângulos hÁ, vértices Vê.

Repagina a imagem da imagem,
olhando para o próprio umbigo.

Ainda conectado ao vórtice original.

Joakim Antonio


"Ele foi para a poesia deste século o que Einstein foi para a física", disse E.E.Cummings, corroborado por Hemingway: "Um poeta deste século que afirme não ter sido influenciado por Ezra Pound merece mais a nossa piedade que a nossa reprovação".¹


E ASSIM EM NÍNIVE

"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."

Ezra Pound (tradução de Augusto de Campos)


Ezra Weston Loomis Pound (Hailey, 30 de outubro de 1885 — Veneza, 1 de novembro de 1972) foi um poeta, músico e crítico literário americano que, junto com T. S. Eliot, foi uma das maiores figuras do movimento modernista da poesia do início do século XX. Ele foi o motor de diversos movimentos modernistas, notadamente do Imagismo³ e do Vorticismo(4).

Obra e influência

Sua obra, carregada de citações e alusões históricas, permanece uma das mais controversas da poesia deste século. A influência de Ezra Pound e do seu projecto de renovação da linguagem poética fez-se sentir em Joyce, Yeats, William Carlos Williams e particularmente em T. S. Eliot, que submeteu o manuscrito da sua obra The Waste Land à apreciação de Pound antes de o publicar em 1922. As correcções feitas por Pound mereceram-lhe a dedicatória de Eliot: "For Ezra Pound, il miglior fabbro" (A Ezra Pound, o melhor artífice).²


1.Frase e poema: O Poema

2.Biografia: Wikipedia

3.Imagismo: Infoescola

4.Vorticismo: Infoescola

Excelente artigo de  Rodrigo Petrônio, Ezra Pound: o calor convida à sombra: Revista Agulha

Página com biografia, poemas e frases  de Ezra Pound (em inglês): PoemHunter

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Remendando – Palavra expressa




Fragmentos de ideias

Geometria de palavras

Expressões delineadas

Retornando para casa


Vidas construídas

Momentos máximos

De falsas premissas

Transformadas


Fragmentos de coração

Pulmão e alma

Costuras bonitas

Invisíveis cicatrizes


Eu, tu e os outros

A mesma casa

Quartos estilizados

Uma só vida


Pedaços de ontem

Momentos de agora

Futuro do pretérito

Sempre imperfeito


Colagens de si mesmo


Joakim Antonio



Publicado originalmente na coluna Palavra Expressa, em Retratos da Alma.


Imagem: The Patchwork Girl of Oz by Idiehl 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Calma



Nunca pensei
que pesava
lhe queriam
se tomava

Nunca achei
que era meu
nem tampouco
tinha dono

Nunca atribuí
por orgulho
a mim
título algum

Mas aceitei
até brigando
ser chamado
de poeta

E no meu canto
o trabalho
me marcou
em poesia

Então deixei
sem mais brigar
aquele tanto
comigo

Joakim Antonio


Imagem: Calm by veprikov

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Será Possível? - Palavra Expressa



Será possível?
Aquela senhora distinta
Rejeitando a amiga

Ainda não acredito
Que pessoas ferem
Seus maiores amigos

Será possível?
Aqueles garotos insensíveis
Batendo num senhor

Ainda não acredito
Que pessoas educadas
Alegram-se com a dor

Será possível?
Aquelas pessoas todas
Apontando os dedos

Ainda não acredito
Que seres humanos
Só vêem defeitos

Será possível?
Eu não acredito
Mas ainda é

Joakim Antonio



Publicado originalmente na coluna Palavra Expressa, em Retratos da Alma.


Imagem: Old man by MaraDamian

domingo, 26 de julho de 2015

Criança pererê - Descortinando Cassiano Ricardo (poeta)





Criança pererê
vive a pular
um pé na oca
outro na cidade
hora verde
hora amarela
resquícios culturais
de antigas verdades
resquícios modernos
de civilidade

Criança pererê
quando dá
pula e sobe
no pé que quiser 
em casa touca
na rua boné
no quintal
vestes poucas
na rua
da cabeça aos pés

Criança pererê
a brincar
de rei do mundo
perfeitamente
conjugado
hipocritamente
correto
puramente ingênuo
sem saber
que realmente é rei

Joakim Antonio



Poética

1
Que é a Poesia?

Uma ilha
Cercada
De palavras
Por todos
Os lados.

2

Que é o Poeta?

Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu rosto.
Um homem
Que tem fome
Como qualquer outro
Homem. 

CASSIANO RICARDO





Quarto ocupante da Cadeira 31, eleito em 9 de setembro de 1937, na sucessão de Paulo Setúbal e recebido pelo Acadêmico Guilherme de Almeida em 28 de dezembro de 1937. Recebeu os Acadêmicos Fernando de Azevedo e Menotti del Picchia.

Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 26 de julho de 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 14 de janeiro de 1974.

sábado, 25 de julho de 2015

Tecla única - Dia do escritor




O que te faz insistir sempre na mesma tecla, você come, dorme, acorda e tudo muda, menos essa compulsão, esse querer sempre mais.

O que será esse insistir que borbulha em suas veias, não no lugar, mas junto ao sangue, há muito contaminado, desde aquele dia que, pela primeira vez, colocou a mão na tinta e a pressionou sobre a parede.

Será que você pensou no depois, enquanto caçava de dia e ao desenhar varando a noite, será que já sabia, que com a mesma ponta do dedo, mas a tinta agora enlatada, voltaria a desenhar nas paredes, já não mais escondidas.

Quando foi que você começou a pausar a vida, olhar para a amante, pensar nos atuais ou futuros filhos, admirar não só o gosto, mas as cores e disposição da comida, olhar o céu querendo o voo dos pássaros e guardar suas penas coloridas.

Em qual momento percebeu, que a pena era suave na mão e que ainda fresca, escorria preciosa tinta, da mesma cor que corria em suas artérias, irrigando o coração de emoção e aumentando o desejo de deixar eternizadas, as imagens que se formam em sua retina.

Quem poderá saber, além de você, porque insiste na mesma tecla, quem poderá questionar os porquês dos poetas, quem ousará entender a mente do escritor e quantos loucos mais surgirão, tentando desvendar a loucura presente, nas linhas da própria mão.


Joakim Antonio


Parabéns a todos escritores!


O Dia Nacional do Escritor foi instituído no dia 25 de julho de 1960, definido por Decreto Governamental, após o sucesso absoluto do 1º Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira de Escritores, por iniciativa de João Peregrino Júnior e Jorge Amado, Presidente e Vice-Presidente, respectivamente.

Imagem:  Montagem by Descortinamento Mental

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Casa da colina - Descortinando Guilherme de Almeida (poeta)



Na casa da colina
morava um príncipe
no peito do poeta
uma pátria

Na bandeira hasteada
trincheiras de luto
armas em brasa
coração rubro

Na alma revolucionária
há ocidente e oriente
prosas de direito
haikais mil

Na casa da colina
traduz-se um poeta
nas suas linhas
o Brasil

Joakim Antonio



"A casa na colina é clara e nova. A estrada sobe, para, olha um instante e desce".  Guilherme de Almeida


Terceiro ocupante da Cadeira 15, eleito em 6 de março de 1930, na sucessão de Amadeu Amaral e recebido pelo Acadêmico Olegário Mariano em 21 de junho de 1930. Recebeu o Acadêmico Cassiano Ricardo.

Guilherme de Almeida (G. de Andrade e A.), poeta e ensaísta, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Conto de fada



Ela desejou tanto que uma fada viesse ao seu encontro, que não acreditou quando foi atendida. Bom, talvez fosse pela sua aparência ou então, pelas palavras proferidas:

"Que foi amiga, já vi que tá discriminando fada também, me poupe né."

E do mesmo jeito que apareceu, sumiu, em uma nuvem de confetes dourados, deixando o chão tão sujo que levou sete dias pra ser lavado.

Moral da história: Não chame fadas se não gosta de faxina!

Joakim Antonio


Imagem: Pixie's dream by mehmeturgut

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ironias - Palavra expressa





Eu sou um ser noturno
mas não soturno
que por ironia do destino
estuda de manhã
(mentira, culpa só minha)

Eu sou um ser adulto
mas não maduro
que por ironia da vida
ainda brinca como criança
(mentira, culpa só minha)

Eu sou um ser alegre
mas não tonto
que por ironia das lições
virou bobo de Clarice
(mentira, culpa só minha)

Eu sou um ser mutante
mas não mascarado
que por ironia da natureza
nasceu com versos nos olhos
(mentira, culpa só minha)

Eu sou um ser inteiro
mas não completo
que por ironia das escolhas
foi obrigado poetizar mentiras
(mentira, culpa só minha)

Joakim Antonio

A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade.
Pablo Picasso


Publicado originalmente na coluna Palavra Expressa, em Retratos da Alma.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Distraído - Descortinando Hart Crane (poeta)



Distrações são vivas
nos levam pelo braço
passeando entre espaços
dentro do próprio ser

Distrações são traiçoeiras
aproveitam nosso cansaço
e sem fazer estardalhaços
nos deixam a sua mercê

Distrações são vazios
de crescimento rápido
criando mais espaços
a nos conter

Distrações são borrachas
apagando fino traço
nos tornando fracos
trazendo o esquecer

Joakim Antonio


Esquecimento é como uma canção
Que, sem ritmo e medida, perde-se.
Esquecimento é um pássaro de asas harmonizadas,
Abertas e imóveis —
Um pássaro que plana ao vento, incansavelmente.

Esquecimento é chuva noturna,
Ou uma casa velha na floresta — ou uma criança.
O esquecimento é branco — branco de árvore ressecada.
E pode atacar a Sibila¹ em profecia,
Ou enterrar os deuses.

Eu posso lembrar muitos esquecimentos.

Hart Crane, ESQUECIMENTO 

Hart Crane (21 de julho de 1899 – 27 de abril de 1932) foi um poeta modernista dos Estados Unidos.
Começou a escrever poesia moderna quando foi viver para Nova Iorque, influenciado por Pound e Eliot, escrevendo ainda em formas tradicionais e arcaicas. Em 1926, quando publicou sua primeira coleção de poemas ainda sofria influência simbolista.

Após a publicação de Bridge, em 1930, livro cheio de otimismo em relação aos EUA, Hart Crane entrou numa profunda depressão, embora continuasse a produzir em estilo requintado.
Depois de obter uma bolsa de estudos no México e de se mudar para lá por algum tempo, na viagem de regresso, Crane suicidou-se atirando-se ao mar.

Embora considerado por muitos de difícil compreensão, e tendo falecido jovem, tornou-se num dos poetas mais influentes da sua geração, sendo citado, muito posteriormente, em Howl e outros poemas, de Allen Ginsberg. WIKI



Par saber mais:

Português


English



1. Sibilas são um grupo de personagens da mitologia greco-romana. São descritas como sendo mulheres que possuem poderes proféticos sob inspiração de Apolo. WIKI

Imagem: Hart Crane by David Alfaro Siqueiros

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Vandalismo poético



"Vandalismo é não falar de amor."



Quando 

ninguém 

estiver vendo


Joga 

uma rosa 

e sai correndo. 






Instagram @poetajoakimantonio 







domingo, 19 de julho de 2015

Minha escrita - Palavra expressa

É secreto desejo
Colocado em sigilo
É uma brisa divina
Preenchendo o vazio

É afluente contínuo
Do tudo que sinto
É cheiro de pólvora
Ao acender do pavio

É sussurro na orelha
Suave e bonito
É angústia no peito
Tornando-se grito

É toque na pele
Por puro instinto
É o vibrar do novo
Naquilo que digo

É um jogo rápido
Diversão de menino
É trabalho de homem
Curtido como o vinho

É marca vivida
Tatuada em um livro
É a descrição perfeita
De um precioso filho


Joakim Antonio


Imagem: Aula de técnicas fotográficas - Light Painting

Canon XT, 18mm, ISO-100, f/20, 20 s

Publicado originalmente na coluna Palavra Expressa, em Retratos da Alma.


sábado, 18 de julho de 2015

46664 - Prisioneiro da Paz - Descortinando Nelson Mandela (pacifista)




Diário de uma prisão Planeta Terra, dia 18 ano 67

Alguns se vêm presos pela carne, classe, status, destino. Outros pelas palavras ditadas, pelos ditos superiores, que se acham com mais estudo, a cor mais certa, a munição mais parruda. Há aqueles que vivem presos às memórias da infância, das oportunidades perdidas, do pouco que tinha e lhe foi tomado. Ainda há os que vivem presos por conveniência, para alegrar aos pais, aos filhos, a sociedade e ao seu íntimo.

Passei por tudo isso, vivenciando e observando. Vi meu povo e amigos morrendo e aprendi que o ódio que sentia, apenas se multiplicaria, se o deixasse preso dentro de mim. Ao longo de todo tempo, mantive meus princípios e por isso, mesmo preso, fui livre.


Eu fui detido pela guerra, mas fui preso pela paz.


Joakim Antonio

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Canto ancestrá - Palavra expressa



Primeiros sons
Palavras rústicas
Traduzindo o apontar
Descrevendo a rimar
Rua e Lua

Essência presente
Vida futura
Nada feito pressa
Tudo feito c'alma
A caça-palavras continua

Hoje desperto
Sobe ou desce
Dançando em espiral
E a palavra dia
Amanhece e anoitece

Roça de mio
Casa de sapê
Olhando e debruçado
Na metade da porta
Aberta ao saber

Um véi pretu diz
Aprenda a ouvi
O canto dus passarin
O sussurro dus vento
A cantiga das frô

Relembre mais
O tempo que foi
Pinto no ovo
Estrela do mar
Semente de flor

Um jovem índio
Passa cantando
O velho índio
Quase civilizado
Ao ouvir chora

Na boca do kurumin
O canto ancestrá da Rosa

Joakim Antonio


Publicado originalmente na coluna Palavra Expressa, em Retratos da Alma. 

Imagem: Music Rose by Dream Factory

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Confissões - Descortinando Anne Sexton (poeta)





Enquanto você canta
Nem às paredes confesso
Lhe alerto que fuja
Ainda secreta e pura
Não suja por mim

Pois como já fui
Ainda estando
Sou menos que anjo
Com desejos mundanos
Despertos por ti

Não ligo pra eles
Pois já sou liberto
Me toco por fora
Te toco por dentro
Em grande frenesi

Seremos loucos
Em confissão mútua
Propondo batalhas
Num corpo a corpo
Respondendo sim

Joakim Antonio

"Não acho que escreva poemas públicos. Escrevo poemas muito pessoais, mas espero que eles se tornem no tema central da vida privada de outras pessoas." 

Anne Sexton 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Senhora do Tempo - Palavra Expressa


O tempo não tem forma
aparece e doa-se
sem pretensão
ensina o segredo
das horas
o como
parar ou estender
momentos
presentes e passados
girando
engrenagens
com as próprias
antes paradas
mãos

O tempo se amolda
sorrindo ou não
trasportando-nos
em nuvens
de água doce
ou salgada
algumas vezes
amargas
que precipitam
em torrentes
sobre outros
mesmo que
lhe dissermos
não

O tempo tem hora
porque contamos
quando
na verdade
ele é quem conta
usando cada vez
uma forma
lembrado na falta
esquecido na sobra
mas sempre
mais esperado
quando senhora
do tempo
bom


Joakim Antonio





Publicado originalmente no site Retratos da Alma em 04/08/2012


Imagem: Suspension - Steampunk by PachecoClaire

terça-feira, 14 de julho de 2015

Nem sempre a lápis - Scenarium



Procura se há calma

No litoral do ser
em sons do mar
preso nas conchas

No campo do sonhar
na luz dos vaga-lumes
que surrupiaram estrelas

No coração urbano
por entre edifícios
de amores concretos

Na periferia do céu
em asas migrando
para corpos quentes

Procura-se a calma


Joakim Antonio




Publicado Originalmente na coluna Nem sempre a lápis, em Scenarium





Scenarium



Selo editorial organizado pelo casal Marco Antônio Guedes e Lunna Guedes, tendo como objetivo: publicar livros de maneira artesanal e com um design que valorize a palavra escrita.
"As Edições Scenarium propõem um olhar inusitado sobre o “objeto livro“… porque, para nós, o livro não é um mero horizonte para as palavras!
O “objeto livro“, em nossa visão, é um enlace entre o desejo de ver, ouvir, ler, escrever e, fundamentalmente: criar…
É uma espécie de ponte entre os olhos e a alma… um objeto único, confeccionado para um público completamente apaixonado!"


Imagens: ©Scenarium

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Cren-dós-padre - Descortinando Cornélio Pires (escritor)



Meia noite na porta do cemitério.

Cren-dós-padre de atravessá o cemitério agora Zé.
Ocê que é besta sô, vamu logo Toin!
Mais Zé, hoje é dia de finadu, eles tão tudo sorto aí dentro.
Ocê carece de sê mais home Toin, além dos mais, eu tenho o corpo fechado.
Avai, tem mesmo?
Craro ué, tá vendo argum buraco aqui, só da cara, osotro que tem os pano tapa.
Deixa de sê besta homi, ainda fica zuando, agora que num vô mesmo,
Então fica aí, quando ocê chegá eu já to dormindo é tempo.
Vai cum Deuso e Nosso Sinhô Jesus Cristo, inté!
Tá, tá, tá, tá, inté. Diz Zé, sem nem olhar apara trás.

Já no meio do cemitério

Esse Toin parece criança, acreditando em sombração.
Comé quié amigo?
Ô, qui bão encontrá mais arguém aqui, o povo morre di medo, vê si pode.
Pois é, não sei porquê.
São tudo caipira sô, isso é culpa dos mai véi, botando caraminhola na cabeça do povo.
Será amigo? Eu sou bem mais velho que você.
Ué e não tem medo di passá pelo cimitério essas hora.
Quando eu era vivo tinha!
Cren-dós-padre, mi acuda Nosso Sinhô!!!!

Zé deu no pé e nunca mais duvidou de nada nessa vida.

Se é verdade eu num sei, mas foi assim que minha vó contou.

Joakim Antonio


“Meio escritor, meio ator, meio animador; generoso, combativo, empreendedor, simpático – a sua maior obra foi a ação nos palcos nas palestras na literatura falada que perde bastante quando é lida. Como os oradores, como certo tipo de poetas, como os repentistas e os velhos glosadores de mote, a dele foi uma literatura de ação e comunhão direta, eletrizante, com o público”.  Dantas, M., Cornélio Pires Criação e Riso - ed. Duas Cidades. Prefácio de Antonio Candido¹





Cornélio Pires (Tietê, 13 de julho de 1884 — São Paulo, 17 de fevereiro de 1958) foi um jornalista, escritor, folclorista e espírita brasileiro.

Foi um importante etnógrafo da cultura caipira e do dialeto caipira.


Iniciou a sua carreira viajando pelas cidades do interior do estado de São Paulo e outros, como humorista caipira.

Em 1910, Cornélio Pires, apresentou no Colégio Mackenzie hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros, e duplas de cantadores do interior. O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia.
Ambicionando cursar a Faculdade de Farmácia, deslocou-se de Tietê para a cidade de São Paulo, a fim de prestar concurso de admissão. Não tendo obtido sucesso em seu intento, conseguiu empregar-se na redação do jornal O Comércio de São Paulo. Posteriormente trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, onde desempenhou a função de revisor. A partir de 1914, passou a trabalhar no periódico O Pirralho.

Foi autor de mais de vinte livros, nos quais procurou registrar o vocabulário, as músicas, os termos e expressões usadas pelos caipiras. No livro "Conversas ao Pé do Fogo", Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu "Dicionário do Caipira". Na obra "Sambas e Cateretês" recolhe inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro. A importância de sua pesquisa começa a ser reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antonio Candido, professor na Universidade de São Paulo, o nosso maior estudioso da sociedade e da cultura caipira, especialmente no livro Os Parceiros do Rio Bonito.

Foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1928, em discos de 78 Rpm, a música caipira. Segundo José de Souza Martins, Cornélio Pires foi o criador da música sertaneja, mediante a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira (dança ritual indígena, durante muito tempo vedada às mulheres, catolicizada no século XVI pelos padres jesuítas), no cururu (dança indígena que os missionários transformaram na dança de Santa Cruz, ainda hoje dançada no terreiro da igreja da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, por descendentes dos antigos índios aldeados, nos primeiros dias de maio, na Festa da Santa Cruz, a mais caipira das festas rurais de São Paulo).

A criação de Cornélio Pires permitiu à nascente música caipira comercial, que chegou aos discos 78rpm libertar-se da antiga música caipira original, ganhar vida própria e diversificar seu estilo. Atualmente a música caipira é chamada de música raiz para se diferenciar da música sertaneja. A música caipira dos discos 78rpm nasce, no final da década de 1920, como o último episódio de afirmação de uma identidade paulista após a abolição da escravatura, em 1888, que teve seu primeiro grande episódio na pintura, especialmente a do Ituano Almeida Júnior, expressa em obras como "Caipira picando fumo", "Amolação interrompida", dentre outras. A ironia e a crítica social da música sertaneja originalmente proposta por Cornélio Pires, situa-se na formação do nosso pensamento conservador, que se difundiu como crítica da modernidade urbana. O melhor exemplo disso é a "Moda do bonde camarão", uma das primeiras músicas sertanejas e uma ferina ironia sobre o mundo moderno.

Após encerrar a sua carreira jornalística, Cornélio Pires organizou o "Teatro Ambulante Cornélio Pires", viajando com o mesmo de cidade em cidade, aplaudido por onde passava.

Cornélio Pires é primo dos escritores Elsie Lessa, Orígenes Lessa, Ivan Lessa, Juliana Foster e Sergio Pinheiro Lopes. WIKI

1. Retirado do artigo AS AVENTURAS DE CORNÉLIO PIRES de Arlete Fonseca de Andrade em PUCSP

Para saber mais:

  • O Paratodos colocou o pé na estrada e foi até Tietê, no interior de São Paulo, conhecer o trabalho de um pesquisador que dedicou boa parte de sua vida à cultura caipira: o jornalista, escritor e folclorista Cornélio Pires em  Youtube.com 
  • Cornélio Pires, uma canturia e um causo divertido, num curto vídeo em YouTube.com  




Imagem: Hi-Speed-Quadrilha by Roobens

domingo, 12 de julho de 2015

Renascendo - Descortinando Pablo Neruda (poeta)



"Sua maciez chegava, voando por sobre o tempo, sobre o mar..." 
(Quem Morre - Pablo Neruda)

Pequena Morte*

Na primeira vez, acordei primeiro e fiquei olhando ela dormir, seu peito subia e descia calmamente, compassadamente como um relógio preciso, já era dia e eu amei estar ali. Continuávamos abraçados, encaixados, não era mais virtual e continuávamos conectados. Admirava seu semblante calmo, amável, havia um leve sorriso mesmo estando dormindo. Deslizei as costas da mão pelo seu rosto, descendo pelo pescoço, por sua pele cor de bronze e seu cabelo agora selvagem, depois da guerra travada ali naquele campo de batalha. Como agora, não tinha o mínimo de sono, queria guerrear mais, mas também adorava ver ela em paz. Ainda mais quando a paz era dupla, pois nessa luta ninguém sai perdendo apesar de acabarem os dois morrendo. Uma pequena morte é verdade, mas que sempre é buscada, pois com ela o corpo para no tempo e apenas por um momento, as almas se fundem, voam e dançam para retornarem completas, repletas um do outro e de si mesmos. E todo dia eu quero morrer de novo.

Joakim Antonio 

"Dois amantes felizes não têm fim nem morte, nascem e morrem tanta vez enquanto vivem, são eternos como é a natureza." Pablo Neruda 


sábado, 11 de julho de 2015

Imbróglio - Descortinando Luis de Góngora (poeta)





Apenas mais um simples sonetinho
Feito de uma maneira assimétrica
Desrespeitando os senhores da métrica
Não muito, mas apenas um pouquinho

Feito com a mesma doçura e carinho
Passando longe da mais pura estética
Sem nenhuma bela forma geométrica
Mas rimando assim, aquele tantinho

Fiz um sonetinho quase gongórico¹
contado nos dedos e de cabeça
aparentemente, um grande imbróglio

De quem não entende nada de letras
nem de dório, nem jônio, só simplórios
sem diplomas, mas com folha e caneta

Joakim Antonio

1. Gongórico: 
Que pertence ou se refere a Luis de Góngora y Argote (1561-1627, poeta espanhol). 

Que é apurado, rebuscado, requintado, trabalhado.





 



Ora que a competir com teu cabelo
ouro brunhido ao sol reluz em vão,
e com desprezo, no relvoso chão,
vê tua branca fronte o lírio belo;

ora que ao lábio teu, para colhê-lo,
se olha mais do que ao cravo temporão,
e ora que triunfa com desdém loução
teu colo de cristal, que luz com zelo;

colo, cabelo, fronte, lábio ardente
goza, enquanto o que foi na hora dourada
ouro, lírio, cristal, cravo luzente

não só em prata ou víola cortada
se torna, mas tu e isso juntamente
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.

Mientras por competir con tu cabello
GÓNGORA, Luis de Góngora.
Fábula de Polifemo e Galatéia e outros poemas.
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (organização e tradução).
São Paulo: Hedra, 2008.


Luis de Góngora y Argote (Córdova, 11 de julho de 1561 — Córdova, 23 de maio de 1627) foi um religioso, poeta e dramaturgo castelhano, um dos expoentes da literatura barroca do Siglo de Oro.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Sofrer por saber - Descortinando Salvador Espriu (poeta)



Muitas vezes invejava
Quem apenas era
Sem olhar

Bastidor do sorriso
Tom de voz
Gesto secular

Tinham olhos tranquilos
Obedeciam às leis
Sabiam ficar

Recolhidos no toque
Se sentindo seguros
No lar-doce-lar

Quem dera pudesse
Obter o saber
Sem queimar

Não veria tristeza
E sempre estaria
Em paz


Joakim Antonio






O sonho de liberdade tornou-se a cadeia
que me liga já para sempre ao meu canto doloroso.
Compadeci-me dos homens, da fria tristeza
do estranho tempo dos homens enterrados na morte,
e lhes trazia cristal e ardor de palavras,
luminoso nome que dizem os velhos lábios do fogo.
Águia, vinda do nascimento da luz,
de onde vês como é concebida a brancura da neve,
busca, para a luz, a mais secreta vida:
pelo sol, palpitante, toda a nua vida.
Abrirás com o bico eternamente caminhos
ao sangue que ofereço como a prova deste dom.


Prometeu, tradução de Ronald Polito.
2002: Quatorze, de Salvador Espriu.
Curitiba: Travessa dos Editores.


Salvador Espriu i Castelló (10 de julho de 1913 - 22 de fevereiro de 1985) é um poeta, dramaturgo e romancista catalão.

O crítico espanhol Josep Maria Castellet destaca a capacidade de Espriu para assimilar a herança mítica da humanidade, integrando num mesmo universo literário o Livro dos Mortos do Antigo Egipto, a Bíblia, a mística judaica e a Mitologia Grega.

Foi um dos grandes renovadores da prosa catalã em conjunto com Josep Pla e Josep Maria de Sagarra. Da sua extensa obra a mais bem conhecida é A pele do touro (título original: La pell de brau) em que desenvolve a sua visão da problemática histórica, social e cultural de Espanha.

A sua poesia do pós-guerra é marcadamente hermética e simbólica, assinalando uma profunda tristeza pelo mundo que o rodeia e pela recordação dos horrores da guerra. WIKI



Para saber mais:


  • Biografia de Salvador Espriu na Wikipédia
  • Três poesias de Salvador Espriu em Poetanarquista
  • Presença(s)de Salvador Espriu no sistema cultural galeguista (2003) - Maria Felisa Rodriguez Prado - Grupo GALABRA - Universidade de Santiago de Compostela em PDF




Imagem: Prometheus by Misojace (Statue of Prometheus at the Altes national Gallery in Berlin.)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Onde anda você




"Ler palavras tristes é como fazer tatuagem, vai doendo aos poucos." 

Joakim Antonio




Vinicius de Moraes (19 / 10 / 1913 - 9 / 7 / 1980)



"Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural". "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes".  Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Amigos de La Fontaine - Descortinando La Fontaine (poeta)



Tá de barriga cheia né, safado?
Um queijinho cai bem de vez em quando né, hipócrita?
Euuu?
Não, eu mané. Você mesmo, que gosta de roubar coisas dos filhotes inocentes.
Ha, ha , ha, pelo menos eu não roubo comida de corvo.
Eu não roubei nada, caiu e peguei, tá bem.
Tá nervosa, santa?
Ai meu Santo La Fontaine, você fez de novo.
Pois é, não foi?
Queria que todos soubessem o quão sacana você é, e eu, a pobre raposa inocente, sempre caio nas suas provocações.
Vai reclamar com seu pai, o "Santo".
Sua sorte é que eu não ligo para essa parte, o importante é que ao encenar, acabamos ensinando.
É mesmo, finalmente você tem razão.
Ah, não enche meu saco e quer saber de uma coisa, vamos dormir.
Para quê?
Bom, pelo menos eu não me faço de burro!
Burro é em outra história, ha, ha, ha, ha, ha.
Ai meu La Fontaine, pena que você não pode mais mudar a história, eu ia pedir para mudar de papel.
Tá bom, ia ser, a raposa desafinada, ha, ha, ha!
Tsc, tsc, tsc, cala essa matraca e deita aí.
Tá bom, rabugenta, vamos dormir.
Vamos aproveitar, daqui a pouco alguém abre um livro por aí e só poderemos descansar quando acabar a história.
Minha linda história, você quer dizer.
Ai meu...
Tá, tá, tá, não fala nada já to deitando, sua chata. Zzzzzz.... zzzz...
Epa! Calma aí seu corvo mal educado.
Que foi agora, raposa cri-cri.
E eles?
Onde?
Aí, olhando a gente.
Ah, é mesmo, foi mal.
Até amanhã para você que está lendo, ou melhor, diz aí raposa.
Até a próxima história.

Joakim Antonio 

"Sirvo-me de animais para instruir os homens. Procuro tornar o vício ridículo por não poder atacá-lo com braço de Hércules. Algumas vezes oponho, através de uma dupla imagem, o vício à virtude, a tolice ao bom senso... Uma moral nua provoca o tédio. O conto faz passar o preceito com ele; nessa espécie de fingimento, é preciso instruir e agradar, pois contar por contar me parece de pouca monta." Jean de La Fontaine (  Na introdução da sua primeira edição do livro “Fábulas”)  

terça-feira, 7 de julho de 2015

O Dramaturgo - Descortinando Artur Azevedo (poeta e dramaturgo)


"Eles passam pra lá e pra cá, vendo apenas uma cadeira, já ele, no primeiro olhar, vê cenas de uma vida inteira."

Joakim Antonio 


"Quando eu morrer, não deixarei o meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso nem frase que saísse do cérebro; mas com certeza hão de dizer: "Ele amava o teatro", e este epitáfio moral é bastante, creiam, para a minha a minha bem-aventurança eterna." (Artur Azevedo "O Theatro", jornal A Notícia, 22/09/1898.)

Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo ( 7 de julho de 1855 - 22 de outubro de 1908) foi um poeta, dramaturgo, contista e jornalista brasileiro.

Na poesia, foi um dos representantes do Parnasianismo, e isso meramente por uma questão de cronologia, pois era um poeta lírico, sentimental, e seus sonetos estão perfeitamente dentro da tradição amorosa dos sonetos brasileiros.

No conto e no teatro, Artur Azevedo foi um descobridor do cotidiano da vida carioca e observador dos hábitos da capital.

Escreveu cerca de duzentas peças para teatro e tentou fazer surgir o teatro nacional, incentivando a encenação de obras brasileiras. Como diretor do Teatro João Caetano, no Rio, encenou quinze originais brasileiros em menos de três meses.

Artur de Azevedo, consolidou a comédia de costumes brasileira, e tornou-se o principal autor do Teatro de revista, em sua primeira fase. Com uma produção jornalística intensa, deve-se a ele a publicação de uma série de revistas, especializadas, além da fundação de alguns jornais cariocas.

Figurou, ao lado do irmão Aluísio de Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 29, que tem como patrono Martins Pena. Fonte: ABL - Academia Brasileira de Letras

Para saber mais:



Imagem: Rocking Chair by athotmaildotcom

domingo, 5 de julho de 2015

Jean "Multi" Cocteau - Descortinando Jean Cocteau (poeta)


Ele vai, volta e faz tudo ao mesmo tempo, agora.


Não importa a arte que venha depois, de que família veio, se o entenderam ou os apelidos que teve. Ele nunca conseguirá abandonar seu primeiro nome, Poeta é para sempre. 

Joakim Antonio



"Todo poema é um escudo de armas.
Tem que ser decifrado.
Quanto sangue, quantas lágrimas
em troca desses machados,
dessas amordaças, desses unicórnios,
dessas tochas, dessas torres,
desses martelos, dessas plantações
de estrelas e desses campos de azul!
Livre para escolher as faces,
as formas, gestos, tons, atos,
lugares que o agradem,
ele compõe um real documentário
de eventos irreais. O músico
sublinha o ruído e o silêncio."

Jean Cocteau  - Epígrafe do filme Sangue do Poeta

sábado, 4 de julho de 2015

O Estrangeiro Definitivo - Descortinando Adolfo Casais Monteiro (poeta)






Não há fio de Ariadne
nem mesmo caminho
mas há saudade

Não há escassez
de sentimentos
mas há dor

Não há doce partida
tampouco despedida
mas há lágrimas

Não há salvamento
passagem oculta
mas há poesia

Joakim Antonio



"Uns dizem que os meus versos são tristes,/ outros que são abstractos./ Mas eu não tenho culpa que a carne da inteligência/ seja triste, e inteligente." 

Adolfo Casais Monteiro, O Estrangeiro Definitivo




Poeta


Poeta: uma criança em frente do papel.
Poema: os jogos inocentes,
Invenções do menino aborrecido e só.
A pena joga com palavras ocas,
Atira-as ao ar a ver se ganha ao jogo.
Os dados caem: são o poema. Ganhou.

Adolfo Casais Monteiro
Confusão
Edições Presença, 1929.



Adolfo Casais Monteiro (Porto, 4 de julho de 1908 - São Paulo, 24 de julho de 1972), poeta e ensaísta, foi um dos intelectuais portugueses que a ditadura salazarista levou a se exilarem no Brasil. Fez parte do que veio a se chamar “a missão portuguesa”, sendo aqui “recebido e assimilado, pelos colegas brasileiros, como um interlocutor autorizado e indispensável na cena literária nacional”.¹


Conhecido dos brasileiros em especial por seus ensaios dedicados a Fernando Pessoa e por sua extensa colaboração com o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, o português Adolfo Casais Monteiro deixou larga obra crítica e ensaística.


Cinema, teatro, literatura e sociologia são alguns dos temas que ele abordou em seus artigos, cartas, palestras e intervenções em eventos culturais em Portugal e no Brasil, onde ele se estabeleceu em 1954, quando já era reconhecido em seu país natal, inclusive como editor.²


1- “A crítica viva de Casais Monteiro”, de Leyla Perrone-Moisés, in A missão portuguesa, de Fernando Lemos e Rui Moreira Leite, org. S. Paulo: Ed. Unesp; Bauru (SP): Ed. Unesc, 2003, p. 52-60


2- Casais Monteiro, Uma antologia. Leite, Rui Moreira (Organizador): Ed. Unesp, 2012, Sinopse





Para saber mais:








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