terça-feira, 30 de junho de 2015

Olhando acima - Descortinando Czesław Miłosz (poeta)




Viu o verso em guerra
sentiu a poesia na carne
fervendo sob a pele
putrificada sobre as ruas
onde até os cães silenciaram

Na complexidade do ser
vivente, preso, exposto
diante o inexplicável
usou escudo simples
feito de letras entrecruzadas

Levantou a cabeça acima
guardando o gosto amargo
pois o frágil nada humano
não precisa de ajuda
para ver e sentir, o que já é

Joakim Antonio



"Em sua essência, a poesia é algo horrível:
nasce de nós uma coisa que não sabíamos que está dentro de nós,
e piscamos os olhos como se atrás de nós tivesse saltado um tigre,
e tivesse parado na luz, batendo a cauda sobre os quadris."

Czesław Miłosz em Ars Poetica



Czesław Miłosz (Kėdainiai, 30 de junho de 1911 — Cracóvia, 14 de agosto de 2004) foi um poeta, romancista e ensaista de língua polonêsa.

Milosz nasceu em família de ascendência polonêsa na Lituânia, quando o país ainda pertencia ao Império Russo. Cresceu em Vilna, onde cumpriu parte dos estudos, outra parte na Polônia. Viveu em Paris (1934 a 19370), período em que absorveu as idéias estéticas e políticas dos círculos de vanguarda. Para ele, escrever sempre foi um ato político. Suas primeiras obras preveem a iminência de um cataclismo internacional e o torna líder da escola catastrofista de poesia polonesa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Milosz passou à clandestinidade e combateu as forças de ocupação nazistas em Varsóvia: publicou poemas de resistência, como Canção Invencível. Após o conflito, foi adido cultural do novo governo comunista da Polônia, mas, em 1951, desiludido com o regime, desertou para Paris. Em 1953, publicou A Mente Cativa, uma coletânea de ensaios sobre a submissão dos intelectuais poloneses ao comunismo. Em 1960, o poeta emigrou para os Estados Unidos, onde continuou ponderando sobre a fragilidade, crueldade e a corruptibilidade humana.

Em reconhecimento por seu pensamento humanista sobre a liberdade, a consciência e o "poder do totalitarismo sobre corpos e mentes", foi laureado com o Nobel de Literatura de 1980. Wiki


Para saber mais:


segunda-feira, 29 de junho de 2015

Veja bem - Descortinando Antoine Saint-Exupéry (escritor)

O que me interessa, é o que você sentiu

Poemas de amor não dizem nada
calma irei explicar
podemos senti-los, mas não ouvi-los
calma de novo
vamos melhorar a explicação
podemos senti-los
se usarmos a percepção do coração
e nunca iremos ouvi-los
se usarmos apenas a razão
às vezes
sim, pode ser não
não, pode ser sim
talvez, jamais
depende do seu sentimento
percepção, momento
não do agora
mas de uma vida toda
O poema só será de amor
se o seu coração aceitá-lo


Joakim Antonio


"Só se vê bem com o coração. 
O essencial é invisível para os olhos.
Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 28 de junho de 2015

A despedida - Descortinando Luigi Pirandello (dramaturgo)

Chegou a hora


Não sei como dizer isso delicadamente, então aí vai. Estou saindo de casa.

Serei eternamente grato, você me deu tudo, me apresentou ao mundo e se tenho algum sucesso, por mínimo que seja, devo tudo a você. Sei que você pode ser considerado mais que um pai, aos olhos alheios você é quase um Deus, mas aos meus, você sou eu.

Nossas histórias se confundem, sou feito do melhor de você, mas como diz, sem os erros cometidos. Mas isso não me satisfaz. Eu quero ter meus próprios erros, saber o que é ser ovacionado e também, deixado de lado, exposto aos holofotes com honras e glórias ou num canto empoeirado, com a única diferença de que serei eu.

Sei que é cruel dizer isso, mas você passará, eu também logicamente, mas você irá primeiro. O quê é isso no seu rosto, um sorriso? Mas é claro, como dizem na terra onde você me criou, estou querendo ensinar o padre nosso ao vigário. Só agora entendi, ou como se diz na internet, LOL. Você já sabia de tudo, melhor dizendo, tudo já havia sido planejado. É verdade que agora sou praticamente eterno, mas você, só você sabe tudo, afinal como saber mais do que meu criador.

Obrigado por escrever minha história! Ass.: Você?!? Agora fiquei em dúvida.

  
Joakim Antonio  



"Quando um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência inclusive do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas outras situações em que o autor não pensou inseri-lo, e às vezes pode adquirir também um significado que o autor jamais sonhou em dar-lhe!" Luigi Pirandello



Luigi Pirandello (Agrigento, 28 de Junho 1867 — Roma, 10 de Dezembro 1936) foi um dramaturgo, poeta e romancista siciliano.

Foi um grande renovador do teatro, com profundo sentido de humor e grande originalidade. Suas obras mais famosas são: Seis personagens à procura de um autor, Assim é, se lhe parece, Cada um a seu modo e os romances O falecido Matias Pascal, "Um, Nenhum e Cem Mil", "Esta Noite Improvisa-se", etc.

Recebeu o Nobel de Literatura de 1934.

Fonte: Wikipédia

Leia também o excelente ensaio, Luigi Pirandello: o filho do Kaos, de Maria Célia Martirani, para a seção rascunho em gazetadopovo.com.br.

sábado, 27 de junho de 2015

Brincando pelas veredas - Descortinando João Guimarães Rosa (escritor)


 Somente renovando a língua é que se pode renovar o mundo.

  
  Enquanto achavam que brincava 

estudava a tudo.

Na certeza que estudava 

brincava com as palavras. 

Nunca aprendeu uma nova língua 

continuou a sua. 


Joakim Antonio
  

"Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como o usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, eu traduzo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros.

Se tem de haver uma frase feita, eu preferia que me chamassem de reacionário da língua, pois quero voltar a cada dia à origem da língua, lá onde a palavra ainda está nas entranhas da alma, para poder lhe dar luz segundo a minha imagem.

 Eu quero tudo: o mineiro, o brasileiro, o português, o latim, talvez até o esquimó e o tártaro. Queria a linguagem que se falava antes de Babel”. - João Guimarães Rosa

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Nas nuvens - Descortinando Francisco Otaviano Rosa (poeta)




Ah que mundo lindo
sempre bem tratado
aquecido e protegido

Ah que mundo belo
flores em volta
rosas e papo amarelo 

Ah que mundo perfeito
como se fosse uma nuvem
no meu céu de direito

Ah que mundo único
nasci e morrerei aqui
onde sempre tive tudo

Joakim Antonio 










Ilusões da vida - Francisco O. Rosa  

"Quem passou pela vida em branca nuvem,
 E em plácido repouso adormeceu;
 Quem não sentiu o frio da desgraça,
 Quem passou pela vida e não sofreu;
 Foi espectro de homem, não foi homem,
 Só passou pela vida, não viveu."



quinta-feira, 25 de junho de 2015

A música venceu - Descortinando João Carlos Martins (maestro)


E se tudo lhe fosse dado
e você
colocado na alturas

Mas fosse tirado
devido a um tombo
inesperado 

Então você
sem se dar por vencido
persistisse e voltasse

Aí um ladrão aparecesse
lhe roubando tudo
todo seu direito

Mas você
versado à música
visse isso como pausa

Um sinal na partitura

Novamente no seu direito
após espetáculos lindos
alguém lhe diz:

Haverá um corte imprevisto

Enquanto muitos desistiriam
você continuaria?

Como se ouvisse Drummond 
na voz de um anjo bachiano

"Vai ser gauche no piano!"

Novamente 
aplaudido, ovacionado
conseguindo manter-se
ser alado

Após algum tempo 
batidas à porta
notícias tristes da vida 
nem certa, nem torta

E se já houvessem 
sessenta anos passados
seria hora de desistir
deixar de lado?

Você faria o que ele fez?
Teria disposição 
de começar tudo outra vez? 


Joakim Antonio  


João Carlos Gandra da Silva Martins (São Paulo, 25 de junho de 1940) é um pianista e maestro brasileiro. É também avaliado como um grande especialista e intérprete da música de Johann Sebastian Bach.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A Moreninha - Descortinando Joaquim Manoel de Macedo (escritor)



Nome doce, romance certo 
Carolina era seu nome
linda pele, sorriso aberto
mistura fina de eras

Olhar negro, rio, espelho
como não se apaixonar
se até o vento vem brincar
com os seus lindos cabelos

Delicada, esperta, bondosa
corpo de índia esculpida
como não compará-la
com a mais bela rosa

Travessa como o beija-flor
inocente como uma boneca
faceira como o pavão
e curiosa como... uma mulher¹

Hoje ela tem vários nomes
sua pele muda de cor
presente em vários livros
todos falando de amor

" Por mais que mude o livro, a história, a capa, o autor, 
todo escritor fala sempre do seu amor!"

Joakim Antonio 


1. A terceira quadra é citação direta do livro, A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo.

Estudiosos da obra macediana observam que a protagonista do romance, Carolina, é uma clara alusão à personalidade e ao comportamento de Maria Catarina de Abreu Sodré, sua esposa e prima-irmã do poeta Álvares de Azevedo.

Joaquim Manuel de Macedo, jornalista, professor, romancista, poeta, teatrólogo e memorialista, nasceu em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de 1820, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11 de abril de 
1882. É o patrono da Cadeira n. 20, por escolha do fundador Salvador de Mendonça.

Era filho do casal Severino de Macedo Carvalho e Benigna Catarina da Conceição. Formado em Medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, clinicou algum tempo no interior do estado do Rio. No mesmo ano da formatura (1844), publicou A Moreninha, que lhe deu fama instantânea e constituiu uma pequena revolução literária, inaugurando a voga do romance nacional. Alguns estudiosos consideram que a heroína do livro é uma clara transposição da sua namorada, e futura mulher, Maria Catarina de Abreu Sodré, prima-irmã de Álvares de Azevedo. Em 1849, fundou com Araújo Porto-Alegre e Gonçalves Dias a revista Guanabara, onde apareceu grande parte do seu poema-romance A Nebulosa, que alguns críticos consideram um dos melhores do Romantismo. 

Voltou ao Rio, abandonou a medicina e foi professor de História e Geografia do Brasil no Colégio Pedro II. Era muito ligado à Família Imperial, tendo sido professor dos filhos da princesa Isabel. Militou no Partido Liberal, servindo-o com lealdade e firmeza de princípios, como o provam seus discursos parlamentares. Foi deputado provincial (1850, 1853, 1854-59) e deputado geral (1864-68 e 1873-81). Membro muito ativo do Instituto Histórico (desde 1845) e do Conselho Diretor da Instrução Pública da Corte (1866). Nos últimos anos, sofreu de decadência das faculdades mentais, falecendo antes de completar 62 anos.

Foi ativa e fecunda a sua carreira intelectual nas várias atividades que exerceu. Um dos fundadores do romance brasileiro, foi considerado em vida uma das maiores figuras da literatura contemporânea e, até o êxito de José de Alencar, o principal romancista. O memorialista ainda é lido com interesse nas Memórias da rua do Ouvidor e Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. Foi no romance, entretanto, que Macedo conseguiu perdurar. Suas histórias evocam aspectos da vida carioca na segunda metade do século XIX, com simplicidade de estilo, senso de observação dos costumes e da vida familiar.

Fonte: ABL - Academia Brasileira de Letras


Imagem 1: Larissa by Balduf


Para saber mais:

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Hermético compreensível - Descortinando Hermeto Pascoal (compositor)


Hermeto é hermético
para muitos
consciência espacial
remédio natural
para todos

Assobia feito passarinho
canta feito lavadeira
mistura fina e pura
de criança arteira
ao contrário do dito
não tira som de tudo

Ele nos dá

Ao tirar tampões
de ouvidos preguiçosos
mal acostumados
por gostos fabricados
o que sempre esteve
se apresenta

E a nossa vida
passa a ter
um novo
tom

Joakim Antonio 

Os sons da natureza o fascinaram desde pequeno. A partir de um cano de mamona de jerimum (abóbora), fazia um pífano e ficava tocando para os passarinhos.  

Hermeto Pascoal (Lagoa da Canoa, 22 de junho de 1936) é um compositor arranjador e multi-instrumentista brasileiro (toca acordeão, flauta, piano, saxofone, trompete, bombardino, escaleta, violão e diversos outros instrumentos musicais).
Ao ir para a lagoa, passava horas tocando com a água. O que sobrava de material do seu avô ferreiro, ele pendurava num varal e ficava tirando sons. Até o 8 baixos de seu pai, de sete para oito anos, ele resolveu experimentar e não parou mais.
Atualmente, Hermeto Pascoal apresenta-se com cinco formações: Hermeto Pascoal e Grupo, Hermeto Pascoal e Aline Morena, Hermeto Pascoal Solo, Hermeto Pascoal e Big Band e Hermeto Pascoal e Orquestra Sinfônica.
Calendário do Som
De 23 de junho de 1996 a 22 de junho de 1997, registrou uma composição por dia, onde quer que estivesse. Essas composições fazem parte do Calendário do Som, livro de 414 páginas lançado em 1999 pela Editora Senac. O objetivo é homenagear todos os aniversariantes do mundo, incluindo uma canção a mais, para os que haviam nascido em ano bissexto.
As partituras manuscritas por Hermeto foram digitalizadas fielmente por Becca Lopes, mantendo a originalidade com a qual o músico e compositor escreveu, sem qualquer tipo de alteração gráfica. Em cada uma das 366 partituras, Hermeto faz um comentário ou reflexão afetuosa sobre amigos, familiares, músicos, seu Fluminense Football Club e objetos em geral, sempre finalizando com a frase “Tudo de bom sempre”.
Na imagem ao lado, a partitura para o dia de hoje, quer saber a sua? Vá até o site de Hermeto e descubra: Clique aqui

Créditos da imagem: Divulgação

domingo, 21 de junho de 2015

Um show de ensaio - Descortinando Fernando Faro (comunicador)

Fernando Faro

Em vez de escrever o livro, ele se tornou a história.


O sudeste teima em desafiar o nordeste, tentando esfriar o sangue caboclo que não se deixa apagar. O nordestino é um forte e não teme a morte, louvando a vida em detalhes e atento a toda paisagem, onde natureza e pessoas em cena, produzem mais do que podemos imaginar.

Fernando Faro é um desses caboclos, nascido em Sergipe e que não deixou São Paulo acinzentar sua visão. Estudante e jogador de futebol, quase nos foi tomado, mas o juízo da mãe o expulsou desse campo e no do Direito ele mesmo anunciou retirada, não sem antes descobrir que gostava de escrever.

Escreveu para jornais, passou para o rádio e depois para televisão, sua verdadeira casa, não sem dar uma passada pelas agências de propagandas. Um comunicador que traz em si a cultura que os nordestinos prezam tanto, música, dança, artes em geral e sempre, absorvendo em detalhes, o que de melhor as pessoas podem oferecer.

Como todo bom comunicador, é um ótimo contador de histórias, tão bom que nos brindou com suas lembranças devidamente enquadradas, pois de que adiantava ser memória viva deixando-nos de memória vazia, sem ver a beleza da mente de tantos músicos, suas pausas compassadas e respostas ritmadas. Então o menino, homem, caboclo, ficou conhecido por muitos como a voz que nos mostrava a beleza desconhecida de tantos outros.

Dizem que é preciso ser poeta para ver poesia em tudo, grande mentira, mas para ouvir o silêncio e reconhecer a poesia ouvindo suas notas antes de soarem, não importa o que digam, é preciso ser poeta, talvez por isso Faro encontrou em Vinícius de Moraes um grande amigo, daqueles que nos dão força para  continuar e também nos ajudam a mandar tudo para a Tonga da Mironga do Kabuletê.

Segue por quase cinco décadas fazendo poemas, onde os próprios poetas são as linhas declamadas e o importante são as pausas que antecedem o canto. O erro nunca foi tão belo e o silêncio nunca tão harmonioso, como quando passa por sua visão e nos é repassado pelas suas mãos.

Se também parássemos para observar, veríamos que há acima de tudo um princípio e por Baixo, um lema: Como a vida. Talvez porque lá no fundo, ele que é muito mais sábio que nós, descobriu que depois há algo muito maior nos esperando e isso tudo, é apenas um Ensaio!


Joakim Antonio

sexta-feira, 19 de junho de 2015

No reino de Ávila - Descortinando Affonso Ávila (poeta)


Ainda existem reis de palavra

No reino de Ávila
cercado de palavras
em vanguarda
não há vilão

No reino de Ávila
há Vila Rica
enfeitada de Ouro Preto
e um Belo Horizonte

No Reino de Ávila
a fauna é rica e única
jabuti de papel
ofusca diamantes

No reino de Ávila
havia e há, todo
o visto e o imaginado
do rei Affonso


Joakim Antonio 

Affonso Ávila (Belo Horizonte MG, 1928) foi um pesquisador, ensaísta e poeta brasileiro.
É considerado um dos mais importantes poetas brasileiros contemporâneos.
Teve participação ativa em importantes movimentos literários, foi criador do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e de toda uma linha de pesquisas e ensaios cujo enfoque é o Barroco no Brasil, principalmente do Barroco mineiro.
Foi organizador da Semana de Poesia de Vanguarda, um importante evento realizado em 1963, e vencedor de diversos prêmios – entre eles o Prêmio Jabuti de Literatura, com O visto e o imaginado.
A carreira de Affonso Ávila acumula trabalhos de levantamento e conservação do patrimônio artístico e arquitetônico das cidades históricas mineiras, sendo um dos marcos desse percurso a criação do IEPHA - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG). 
Fonte: Wikipédia

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Arigatou - Dia da Imigração Japonesa no Brasil



Um obrigado é sempre uma via de mão dupla


Aqui tem samurai nordestino, caboclo oriental, gueixa brasileira, sambista japonesa, carateca baiano e capoeirista oquinawano. Tem poetas recitando haikai em português e cordel em japonês, bebendo caipirinha de sakê e comendo arroz grudadinho com feijão mulatinho. Tem feijoada na academia após graduação de faixa preta paulista filho de nordestino, formado por mestre japonês mistura de italiano, alemão, índio e português. Só aqui nações misturam-se tanto que não há mais distinção, nem preconceito, somos todos povo brasileiro.

Este ano comemoramos 107 anos de amizade, luta e ajuda mútua entre Brasil e Japão, dois gigantes e um só coração.

Um dia, em uma comemoração na Liberdade, vi nossos irmãos agradecendo a acolhida recebida, mas o obrigado é uma via de mão dupla, ganha mais quem dá, que quem recebe, no caso nós também devemos dizer obrigado, ou melhor,

ARIGATOU! 

Joakim Antonio



18 de junho de 1908 aportava em Santos o navio Kasato Maru, trazendo o primeiro grupo de imigrantes japoneses vinculados ao acordo estabelecido entre o Brasil e o Japão.

Influência da imigração japonesa no Brasil
Os imigrantes japoneses aperfeiçoaram as técnicas agrícolas e de pesca dos brasileiros. É notável o seu trabalho na aclimatação ou desenvolvimento de vários tipos de frutas e vegetais antes desconhecidos no Brasil, no total trouxeram mais de 50 tipos de alimentos, entre os quais o caqui, a maçã Fuji, mexerica poncã e o morango. Além dos alimentos trazidos pelos imigrantes japoneses no Brasil destaca-se também a grande expansão da avicultura brasileira que só cresceu de vez quando foram trazidas aves-matrizes do Japão e com a experiência dos imigrantes japoneses nas granjas.
A diáspora japonesa forneceu uma porta de entrada para a influência cultural japonesa no Brasil que se destaca na tecnologia agrícola, culinária, esportes: judô, aikidô, jiu-jitsu, caratê, kendô, sumô, gateball e apesar de o beisebol já ser praticado antes da chegada dos imigrantes japoneses foi através desses imigrantes que se deve o desenvolvimento do Beisebol no Brasil. Mangás, seriados de televisão (como os animes) e outros aspectos.
O bairro paulistano da Liberdade representa um pedaço do Japão com vários pórticos vermelhos de templos xintoístas. Restaurantes de yakisoba, sushi e sashimi competem com os karaokês e supermercados nos quais se pode comprar o nattō e vários tipos de molho de soja.
Até mesmo o drinque brasileiro mais famoso, a caipirinha, ganhou uma versão japonesa com saquê: a sakerinha. Fonte: Wikipédia  


Imagem 2: Kasato Maru, 1908. Acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil (MHIJB-SP)

terça-feira, 16 de junho de 2015

Cabra da peste - Descortinando Ariano Suassuna (escritor)

Esse cabra da peste é um mestre

O cordel é interessante
conta bem qualquer história
de princesa a toda gente
basta puxar da memória
do tempo do seu vigário
até os tempos de agora

Tem história cabeluda
de tesouro enterrado
tem de fada e de bruxa
com final destrambelhado
de alegria e tristeza
cantada por iletrados

Seu Suassuna nasceu
em junho de vinte sete
na Capital das Acácias
do nosso lindo nordeste
já chegou cordeliando
eita que cabra da peste

Da cultura do nordeste
virou grande defensor
usando da sua pena
escreveu sobre a dor
que aflige toda gente
desse sertão sofredor

Trouxe muitas alegrias
pra esse povo de aço
que resiste bravamente
e lhe mandam um abraço
todo Brasil lhe deseja:
Um Feliz Aniversário!

Joakim Antonio

(Texto publicado em virtude da comemoração dos 85 anos de Ariano Suassuna)


Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, 16 de junho de 1927- Recife, 23 de julho de 2014)) foi um dramaturgo, romancista e poeta brasileiro, defensor da cultura do Nordeste e autor de Auto da Compadecida e A Pedra do Reino.

Em 1955, Auto da Compadecida o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro". Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema.

Seu livro, Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta foi publicado em 1971. É inspirado em um episódio ocorrido no século XIX, no município sertanejo de São José do Belmonte, a 470 quilômetros do Recife. Na época do seu lançamento, o livro foi considerado um marco da literatura nordestina, após o ciclo do romance regional de 1930 e foi adaptada para o cinema, o teatro e a televisão.
A história transformou-se em microssérie exibida pela Rede Globo em homenagem aos 80 anos do escritor. A trama foi exibida entre 12 de junho a 16 de junho de 2007 e sua exibição foi integral nos cinemas.

De 1990 até o ano de sua morte, ocupou a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Manuel José de Araújo Porto Alegre, o barão de Santo Ângelo. Foi sucedido por Zuenir Ventura.

Ariano foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões.

Obras de Ariano Suassuna já foram traduzidas para inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês

(Wikipédia)


Imagem 1: Ariano Suassuna colorby SilviodB
Imagem 2: Wikipédia

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Conclave



Poetas
casca dura
ojeriza histérica
por outras escrituras

Críticos
do não-eu
crias disléxicas
dum ego-ser poeta

Olhos
ainda longe
diante cataratas
nas noites insones

Elogios
quase infantes
palavras complexas
em ecos equidistantes

Gritaria
sempre perfeita
paráfrase correta
pelas suas métricas

Humildade
quase nula
símplices inertes
numa linda moldura

Malditos
poetas benditos
unanimidade sacra
cardeais do ofício

Joakim Antonio

Imagem: Conclave I by Violico

domingo, 14 de junho de 2015

Há um vampiro em Curitiba - Descortinando Dalton Trevisan (escritor)


Desenho feito a partir de relato de testemunhas

Cara olha só o que descobri hoje, saiu no jornal do meu pai.
Ah então eu já sei, não tem nada que eu não saiba de notícia.
Então você já sabia que há um vampiro em Curitiba?
Deixa de falar besteira cara, vampiros não existem.
Mas tá aqui ó, no jornal, vampiro de Curitiba.
Tá bem então, se tem foto, já não é.
Aqui diz que ninguém consegue fotografá-lo.
Tá, mas vampiro não sai no sol.
Ninguém o vê de dia. Aliás, aqui diz que ninguém o vê.
Mas não tem vampiro brasileiro não, já viu vampiro moreno cara.
Nada a ver, ele morde só branco agora por acaso? Mas de qualquer jeito ele é pálido e... nossa!!
Que foi? Fala logo que agora você me deixou nervoso.
Deve ser novo, saca só, vampiro não vive muito?
É sim, por que?
Ele está fazendo 86 anos hoje.
Então é verdade, tem um vampiro em Curitiba.
Peraí, não é vampiro que se falar o nome 10 vezes ele aparece? 
E quantas vezes nós falamos?
Vampiro?
Nesse momento a luz se apaga. 

Joakim Antonio

(Texto publicado em virtude da comemoração dos 86 anos de Dalton Trevisan, no dia de hoje ele completa 90 anos de idade.)


Dalton Jérson Trevisan (Curitiba, 14 de junho de 1925) é um escritor brasileiro, famoso por seus livros de contos, especialmente O Vampiro de Curitiba (1965), e por sua natureza reclusa.

É reconhecido como um importante contista da literatura brasileira por grande parte dos críticos do país. Entretanto, é avesso a entrevistas e exposições em órgãos de comunicação social, criando uma atmosfera de mistério em torno de seu nome. Por esse motivo recebeu a alcunha de "Vampiro de Curitiba", nome de um de seus livros. Assina apenas "D. Trevis" e não recebe a visita de estranhos.
Prêmios
Foi eleito por unanimidade vencedor do Prémio Camões de 2012, ano em que também recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Fonte: Wikipédia

sábado, 13 de junho de 2015

Pessoas - Decortinando Fernando Pessoa



Dizem para sermos nós mesmos, senão podemos nos perder por inteiros. Poucos entendem que somos fragmentos de tempo, engrenagens móveis, insubstituíveis é verdade, mas todas trabalhando juntas, nos tornando um só.

Se cada momento nosso pudesse falar, teria uma personalidade própria. Com poucas divisões teríamos, o amoroso, o disciplinado, o alegre, o paciente, o honesto, o sonhador e o racional. Isso falando do lado bom, pois cada um tem sua contra parte, então somando os maus teríamos quatorze.

Agora imagine cuidar de todas essas personalidades. Muito trabalho, não é mesmo?

Alguns perguntam sobre a genialidade de Fernando Pessoa, basta dizer que ele se desmembrou em setenta e duas personalidades, incluindo o próprio, sendo mais conhecidas Alberto Caieiro,  Álvaro de Campos e Ricardo Reis, cada um com sua própria biografia.

Hoje comemora-se o 127° aniversário de Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo". 

O poema, Se depois de eu morrer, é de Alberto Caieiro uma das pessoas de Fernando.

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimento nenhum.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.



Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".

Por ter sido educado na África do Sul, para onde foi aos seis anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu perfeitamente o inglês, língua em que escreveu poesia e prosa desde a adolescência. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras inglesas para português e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para inglês.

Ao longo da vida trabalhou em várias firmas comerciais de Lisboa como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente". Fonte: Wikipédia

Ficha pessoal 

Ficha pessoal, também referida como nota autobiográfica, intitulada no original "Fernando Pessoa", dactilografada e assinada pelo escritor em 30 de Março de 1935 (em algumas edições está 1933, por lapso). Publicada pela primeira vez, muito incompleta, como introdução ao poema À memória do Presidente-Rei Sidónio Pais, editado pela Editorial Império em 1940. Publicada em versão integral em Fernando Pessoa no seu Tempo, Biblioteca Nacional, Lisboa, 1988, pp. 17–22.


FERNANDO PESSOA*
Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.
Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.
Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e Director-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus.
Estado civil: Solteiro.
Profissão: A designação mais própria será "tradutor", a mais exacta a de "correspondente estrangeiro" em casas comerciais. O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.
Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dto. Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa).
Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.
Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. É o seguinte o que, de livros ou folhetos, considera como válido: "35 Sonnets" (em inglês), 1918; "English Poems I-II" e "English Poems III" (em inglês também), 1922; livro "Mensagem", 1934, premiado pelo "Secretariado de Propaganda Nacional" na categoria Poema". O folheto "O Interregno", publicado em 1928 e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.
Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.
Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário.
Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as igrejas organizadas e, sobretudo, à Igreja Católica. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.
Posição iniciática: Iniciado, por comunicação direta de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da Ordem dos Templários de Portugal.
Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: "Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação".
Posição social: Anti-comunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.
Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.
Lisboa, 30 de Março de 1935.
Fernando Pessoa [assinatura autógrafa]
 * Cópia do original dactilografado e assinado existente na Coleção do Arquiteto Fernando Távora.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Realidade


Moleque safado, roubou o mercado. Doriana dentro da calça, Claybom por baixo da camisa. Saiu correndo em desespero e parou na esquina. Ofegante, suado, ainda com os olhos estatelados, de medo, enquanto o segurança gritava, "Eu ainda te mato, seu porcaria.".  Seu cheiro era sem tamanho, mistura de comida da lixeira e dias sem banho. Mas agora sim, usaria seu dom artístico para mudar seu destino. Cansou de fazer esculturas, em sobras de feira, que ninguém queria.

Jogou os potes na calçada, encheu a mão naquele engordurado gelado e esculpiu de qualquer jeito, uma mulher, um homem, duas crianças, um cachorro e uma casa ampla. Logo depois, se acalmou, rezou pro Dono das ruas e dormiu diante sua obra prima. Acordou com o sol a pino, mais sujo que de costume, quase que recoberto por sua criação. Não foi como nos desenhos, onde a comida anda, nem foi como nos contos de fada, onde desejos viram realidade. Foi sim, exatamente como lá no fundo já esperava e entendia.

Não é dado aos rejeitados, ter uma família de margarina.

Joakim Antonio​


Imagem: Homeless by sifu

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