sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Trato antigo



- Nunca deixe de fazer algo, porque o mesmo tema já está por aí, aliás, isso devia ser um sinal de que está no caminho certo. Há uma fina conexão entre consciências. Ideias são vivas e buscam todas as mãos que lhe deem atenção, querendo ser. 

- Jamais deixe de falar, por parecer coisa ínfima, que será esquecida, pois nada é sem importância. Se seu coração desejou é porque naquele momento, tudo era certo. Não há coincidências, há o tudo que você fez para que aquilo viesse até a ti. 

- Em nenhum momento, tenha medo de mudar. Há novos cais, amores, chegadas e despedidas. Mas seja amigo, exalte os acertos, ria dos defeitos, mas fuja de quem se junta pra desdenhar e rir de feridas. Sempre haverá um amor maior. Parece cruel, mas é a vida. 

- E preste muita atenção nos sinais. É normal que, às vezes, você se esqueça a que veio. Mas quando os amigos lhe perguntam, onde está aquele você, é hora de rever seus conceitos.


Joakim Antonio

(relembrando antigas regras)


Imagem: Write by Selaks


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Passeando pelo Rio


Ah, o Rio em Dezembro, praticamente de Janeiro, muito sol, lindas mulheres, futebol, voleibol, águas limpas, azuis, verdes. Paisagens sempre coloridas, mudando os tons conforme o tempo e o temperamento.

Não posso falar dele inteiro, mas a Barra era um paraíso e além do mais, a companhia era incrível. Só a deixava para entrar no mar, ficando até enrugar praticamente tudo, realmente tudo. Após um tempo, chamava para irmos embora, mas como? Não é que eu não queria, sou golfinho e água é casa, mas todos sabem que voz de sereia tem poder, então logo saía.

Eu ficava na Tijuca esperando ela chegar, o telefone não tocava, o tempo esticava, esticava... Confesso que nunca vi o tempo esticar tanto, mas ela sempre vinha. Foram dias que pareceram meses, algumas coisas passam voando, mas o tempo que eu fiquei pareceu um ano.

O retorno nunca foi tão doído, apesar da tristeza, não havia mais medo, só havia entrega e um pouco de segredo, mas só nosso. Em compensação, o reencontro era certo e mais, o réveillon, o show, a praia, o hotel, todos os momentos tornaram-se eternos.

Mas a beleza de ter e ser contido, praticamente canibalizado no Rio, é que não era só sexo.

Era amor!

Joakim Antonio


Imagem: Paia da Barra - RJ by JoaKim

Publicado originalmente no site Passeando pelo Cotidiano

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Nascimento



E antes de nascer, já era verso. Cantado na aldeia, ensinado a gerações, às vezes em segredo de amantes. Declamado ao pé do ouvido, avivando o olhar, tornando-se doce gemido e invadindo o sangue. Primeiro virou minúsculo ponto e em nove meses, cresceu, ganhando vírgulas, acento, letras, palavras, cantos ancestrais. Também ouviu desejos, de que não fosse outra menina, medos de que, como os outros meninos, viesse para ir embora logo. No dia certo, o trovão anunciou e a tempestade veio, houve correria e até carro de polícia, faltando pouco pra nascer nele. Mas a chuva abençoou o momento e em vez de trânsito, ruas vazias. Houve um momento suspenso no espaço-tempo, mas em ninho protegido, passarinho pia alto e todos os medos sumiram. E a poesia daquele dia, foi tão simples, mas tão intensa, que só eles compreendiam.
O verso no olhar gritava, eu te amo, mas só conseguiam repetir:
"Ele nasceu, ele nasceu..."

(afilhado da chuva, nascido na tempestade, anunciado no trovão)


Imagem: New life is born 1 by inextremo

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Eterno agradecer


Juntou seu dinheirinho, contando centavos pela vida afora e finalmente comprou a casa onde crescera. Mesmo a contragosto dos filhos, pois pagou bem mais do que valia. Mudou-se e fez um almoço de boas vindas para a família. Fez tudo como era no seu tempo de criança. A comida exalava um cheiro que nunca sentiram, evidenciando sua gostosura e deixando todos com água na boca, fazendo crianças e adultos ficarem em volta, nos famosos beliscos.
Ao servir a refeição, todos comeram até se fartar, alguns lembrando que há tempos não comiam certos alimentos e quitutes, mas tudo era bom demais. As mulheres, todas em volta dele, queriam saber as receitas do grande avô e ele, apenas ria e dizia ser segredo de família, mas no fim do dia, saberiam de onde veio.
Na hora da sobremesa, pediu que todos fossem para outra mesa, no quintal dos fundos. E assim o fizeram. Filhos em volta da mesa, netos pelo chão, noras servindo a todos em taças antigas, de extrato de tomate cica. Todos fizeram questão que ele comesse o primeiro pedaço do manjar, daqueles simples e com ameixas em cima.
Ele sentou e colocou um babador, meio puído e com galinhas e patos desenhados à mão, olhou para todos, com um brilho que nunca viram antes e sem medo dos netos o acharem mais louco, falou em voz alta, descendo lágrimas, mas com um sorriso no rosto.
Obrigado Mãe!

Imagem: Smile by Dailywish

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Minha força - Palavra Expressa



Minha força
não vem da academia
nem reside em minhas flechas

Ela faz morada
na névoa da floresta
é sentida em minhas ervas
no algo que mora no tabaco
e no material de que é feito minha oca

Reside no nada
de onde tudo brota
dá conselho ao pé do ouvido
é temida em minha palavra
faz vibrar minhas histórias

Corre no sangue
na veia aberta da terra
no rio, no mar, no mangue
nas lágrimas da grande mãe
nos raios quentes do grande pai

Risca o chão
como raio e trovão
queima a pele antiga
destrói as cascas vazias
e traz o nascer do novo dia

Minha força
vem do todo que foi
mora no tudo que será

Joakim Antonio


Publicado originalmente no site Retratos da Alma.


Foto: Guerreiro Kuikuro by Rodrigo Petrella
Exposição: Guardiões da Floresta

domingo, 25 de setembro de 2016

Tentação


Abrir os olhos pro que te faz sorrir, destrancar as portas do pensamento, despertar o que já está aí, buscar o oitavo sentido, pleno de poder ser. E perceber que não é tentação: é você.

Joakim Antonio


Imagem: Fátima Encarnado Fotografia

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Deus humano


Será que Deus é mesmo onisciente? Eu gostaria que não. Gosto de pensar num Deus que seja corajoso. Que lute pra ficar de pé, pois o cair é fácil, o sucesso não.
Será que Deus é mesmo onipotente? Eu gostaria que não. Gosto de pensar num Deus que também se apaixona, pra ter mais força na criação.
Será que Deus é mesmo onipresente? Eu gostaria que não. Gosto de pensar num Deus que seja poeta. Que se apaixone, lute, vá, chore, sorria e escreva, pensando em estar, sua melhor poesia.

(apenas humano)


Imagem: Through the iris II by Armin Mersmann

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Cometa


Poetas são cometas, riscando céus de corações. Injetam ideias na mente alheia, que constroem castelos com terra, lua e estrelas, enquanto comem a própria fome, disfarçada de madrugada. Trazem imagens antigas, preenchendo a retina e traçam planos invisíveis, regados com café. Renascem ao som do coração, apertado ao peito. Emudecem, pra não machucar a quem querem bem. Deslizam entre palavras raras, feitas de poesias que se unem. E então, cantam a música presente, numa partitura de emoções.

Poetas são cometas, riscando céus de corações, até o próprio.

Joakim Antonio


Imagem: Comet by Obliterateoblivion

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Viaje


Sai palavra, corre mundo, corre por todas as casas. Cavalga os quatro ventos, sai em busca de espaço e viaja até a constelação de peixes, volta e mergulha nos sete mares, brincando com as estrelas do mar. Mata tua sede de voos, mergulhos e retorna, suja de vida. Com crosta de ideias, cheiro de dúvidas e avessa a delicadezas, enquanto não parar e meditar sobre tudo que se agarrou a ti. Deixa tua consistência se desmanchar até não ser, para depois, sendo nada, tornar-se tudo que puder conceber.

Sai palavra, mas retorna...


Joakim Antonio

(ouvindo a palavra no vento)


Imagem: In the wind by Mish00

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Utopia



Utopia é querer a vida perfeita, mesmo que ela pareça não chegar. É buscar fugir da tristeza. Agarrar forte e sorrir suave. Mas também gargalhar e tocar sem medo. Pegar a esperança nos braços e sussurrar em seu ouvido: teu nome agora é realidade!

Joakim Antonio


Imagem: What life is made of by Dianephoto

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Lacunas



Há um buraco
novo
no vazio
do crânio

Há um crisântemo
tolo
no vazio
da órbita

Há um verso
sujo
no vazio
da fossa

Há um martelo
mouco
no vazio
da bigorna

Há um poema
roto
no vazio
do céu


Joakim Antonio

Imagem: Autumn chrysanthemum by Natalia Drepina

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Errando a mão - Palavra expressa




Abri o livro de anotações – numa vã tentativa – querendo a receita certa para temperar a vida.

Vasculhei palavras passadas e vi centenas de erros gramaticais, percebendo como as correções, no devido tempo, teriam mudado seus sentidos estruturais. Deixei passar as nuances semânticas das palavras suaves, atento apenas aos pesados e ácidos objetos diretos, os mais apontados no calor dos atos.

Notei que sempre havia pedidos de ajuda em signos que queriam denotar força e que, por mais que a gente se iluda, independente do período da oração, o termo sempre muda.

Então, reli e interpretei cada anotação, apenas para corroborar minhas suspeitas da resposta, ali a me encarar, em cada nota: o imperfeito verbo errar, conjugado perfeitamente, no pretérito do sempre eu. Inadvertidamente presente nas receitas, mas acentuadamente errando a mão. Pela enganadora certeza do tempero certo, para todos os tempos e modos de uma relação.


Joakim Antonio


Publicado originalmente no site Retratos da Alma.

Imagem: Spices Galore by somehow-somewhere


Visite e curta: https://www.facebook.com/poetajoakimantonio/

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Apontamento

Apontou o lápis, de ponta rombuda, sem finos traços, a folha muda. Apontava o lápis, de pele gasta, sem hora certa, a casca da palavra. Apontado o lápis, de madeira em verniz, sem linha presente, pedia raiz. Aponta o lápis, de modo incisivo, sem cerimônias, querendo destino.


Joakim Antonio


Imagem: Ceci n'est pas une crayon by Coloriatempera

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Cultivando



Enquanto outros dormiam, arava a noite. Dispersava o silêncio, assobiando em direção aos moinhos de sonhos. Usava o brilho das ideias como pirilampos e deixava os grilos da mente na serração. A observar, a sábia ave noturna arregalava ainda mais os olhos, diante seu terno olhar, pois não havia mágoas nas marcas que trazia. Preparava tudo e antes do último ato, parava para assistir a pororoca do céu. Abria os braços em oração e respirava fundo, saudava o pai e usava do próprio calor, para compor a paisagem e começar o plantio. Não tinha ferramentas adequadas, então sulcava sem pá a lavra da vida. Depois, com sorriso no rosto, usava as mãos para semear borboletas-do-estômago e começar um novo dia.


+Joakim Antonio


Imagem: Jesus and his seeds by Russianart23

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Vela d'água


com fome oferece
pede mais

sem chuva encarde
fede mais

fervor sacro
ingenuidade macro

há fogo santo
a vela chora


Joakim  Antonio



Imagem: Water candle by Mateuszpisarski

domingo, 11 de setembro de 2016

Dia de lição



Tomou novos caminhos e viveu usando um quase nome. Disse amém e rezou o grande livro. Fez todos os sacramento possíveis, mas nunca se adaptou. Sempre achou aquele deus esquisito, cheio de ciúmes e mágoas, vinganças e inconstâncias, muito parecido com o povo que o criou. Por onde ia era sempre bem quisto, ganhando elogios, mas faltava algo que não sabia expressar. Sentia que de longe o observavam, esperando algo mais.

Num certo dia, pegou sua jaqueta preferida e saiu sem destino, buscando palavras, que há tempos não ouvia mais. Buscou uma linha mestra e a seguiu, entrou na água fresca e depois passou pelo deserto, foi apontado pelos fiscais do politicamente correto e então, sem saber como, caiu numa cidade cinza. Andou pelas ruas escutando cânticos embebidos em álcool, ouvindo vários vazios, disfarçados de, Eu te amo e vestiu todas as peles que cada local pedia. Mas nada adiantou.

Voltou pra casa e encontrou um amigo no caminho, achou engraçado que era sempre o mesmo que aparecia nesses momentos. Seu amigo o olhou e brincou, sobre estar sempre de roupas pretas quando se viam, perguntando se isso era mania de poeta e saiu correndo rindo alto. Ele também riu, mas achou estranho a pergunta, olhou em volta e notou que havia parado no meio do campão de futebol. Um refúgio de barro no meio da cidade. Abaixou e começou a riscar algo no chão.

Observou o desenho feito de palavras, analisou o escrito, contou as sílabas, observou as frases, reviu as últimas palavras em cada uma e sorriu. Era isso! Não podia ter parado de escrever daquele jeito, aliás, de nenhum jeito. Se não havia papel, usasse as ruas, do mesmo modo, se não havia leitores, procurasse ouvidos sedentos, ao vivo. O que importava era poder deixar tudo fluir.

Ficou de pé e viu a revoada de pássaros chegando, ouviu seu canto e pensou como a natureza é pura poesia. Também, sem olhar pra trás, não notou o amigo ao longe, junto de outros, observando tudo. Um deles, mais velho, disse que olhando dali, os pássaros pareciam uma digital e outro, mais novo, perguntou se já podiam ir embora. Ao passo que o amigo antigo respondeu:

- Eu acho que devemos aproveitar mais o momento, pois não é sempre que podemos ver pássaros, em revoada, ensinando ao mais novo como voar.

Joakim Antonio



Imagem: Flight by Felicia Simion Photography
© COPYRIGHT 2007-2016

sábado, 10 de setembro de 2016

Tempo bom


São Paulo, madrugada fria, chamo-o a conversar comigo como se tivéssemos hora marcada e sem demora, ele vem.

Tempo, meu mais antigo e nunca velho amigo, me presenteando cartas brancas, onde escrevo meus delírios. Depois coloco na garrafa e jogo em tuas águas, guardadas até alcançarem as mãos do grande presente. Não sou a mesma criança, do primeiro dia que conversamos, mas se valesse a medida, comecei o sétimo ano. Por isso lhe chamei novamente. Chegou a hora de me matricular, na escola do que aceitei, quando alguém disse meu verdadeiro nome e vieste, de braços dados com Poiesis, descortinar todos os passos que me levaram a ela. Sei que me favorece mais, quando esqueço-o, pois foi o jeito que combinamos para não me consumir. Não maldigo quando passa, não maltrato quando não vem. Elástico no prazer e curto no enfadonho, seja Kairós, seja Chronus, Sol girando, ou areia navegando num oito. Não importa o nome que lhe dão, sempre o reconheço e admiro em segredo, sem que o outro saiba que lhe estende a mão. Continue bem vindo no seio da minha família e a me guiar nas tuas águas. Sendo presente onde eu esteja, fazendo do sorrir, lembrança atemporal. Estou pronto pra aprender mais, tu o professor e a vida, sempre uma nova lição.

Que os despertadores cantem em uníssono: o Tempo é bonito.

Até o próximo encontro e obrigado pela lembrança do aniversário, hoje é dia de te encontrar brincando, na consciência de todos por onde passar.

Hoje é dia de Tempo bom.


Joakim Antonio


(escrito na areia, levado pelo tempo)



Imagem: Bottle of time by Lupaakarii

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Escrevendo paz - Descortinando Leon Tolstoi (escritor)


Somos formados de pedaços belos e feios, doces e amargos, convivendo entre si. Não só podemos, como devemos escrever sobre tudo, verdades, absurdos, sobre nada. Mas não há razão verdadeira para que mesmo que só escrevamos, armas, não possamos fazê-las disparar tiros de paz. Podemos até sentir complicada tristeza, mas o mesmo que sente sabe o que deseja, para mudar.

Experimente, mesmo que por economia, deixar de escrever por um momento, guerra; para escrever simplesmente, PAZ!

Joakim Antonio



"Cada um pensa em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a sí mesmo." Leon Tolstoi - Pamphlets - translated from the Russian - página 71, Free Age Press, 1900




Leon Nikolaievitch Tolstoi (9 de setembro de 1828 - 20 de novembro de 1910). Foi um novelista, anarcopacifista e pensador moral, notável por suas idéias de resistência através da não violência. É considerado um dos maiores escritores de todos os tempos.

Além de sua fama como escritor, Tolstoi ficou famoso por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos textos e ideias batiam de frente com as igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à natureza.

Junto a Fiódor Dostoiévski, Gorki e Tchecov, Tolstói foi um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX. Suas obras mais famosas são Guerra e Paz, sobre as campanhas de Napoleão na Rússia, e Anna Karenina, onde denuncia o ambiente hipócrita da época e realiza um dos retratos femininos mais profundos e sugestivos da Literatura.

Morreu aos 82 anos, de pneumonia, durante uma fuga de sua casa, buscando viver uma vida simples.

Pacifismo

Tolstoi ficou famoso por ser um pacifista. Nas palavras de Mahatma Gandhi, com quem Tolstói trocou correspondência, o escritor foi o maior "apóstolo da não-violência". No livro "O Reino de Deus está em vós", Tolstoi baseia-se no Sermão da Montanha para afirmar que não se deve resistir ao mal utilizando-se do próprio mal.

No mesmo livro, continuando seu raciocínio pacifista, o escritor afirma ser contrário ao serviço militar obrigatório (e ao militarismo como um todo). Ele também defende e exalta povos como os Quakers, que buscam a simplicidade, a autonomia e não utilizam de violência. Fonte: Wikipédia


Para saber mais:


Tolstoi e a anti-pedagogia (uma proposta de educação libertária) em http://www.revistas.usp.br/

Grandes entrevistas - Leon Tolstoi em Tiro de letra


Imagem: Peace by subdoom

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Silêncio impreciso - Descortinando Camillo de Jesus Lima (poeta)



Então me tranco num escuro profundo
não do quarto, nem do mundo, tampouco do inteiro breu
mas da visão turva, crivada de zunidos
de balas achadas, gritos perdidos e esperança minada
que tolhem a própria imaginação do ser

Nesse quase somente eu
escuto a mente de todos nós
atados pelo estado, inercial e letárgico
imposto pelas pílulas adocicadas e diluídas
em gás do riso, alheio, ao nosso querer

Então, mudo, desabafo pelos olhos
numa busca incerta de imagens
para todos os sons presentes
no silêncio impreciso
do começar a escrever

Joakim Antonio


O Poeta Escrevendo

Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.
De que serve trancar a porta?
De que serve botar as mãos no ouvido?
De que serve fazer papel de surdo que não quer ouvir?
Gritos de homens na rua entram, apesar de tudo,
Uivos de seviciados entram, apesar de tudo.
Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.

Os eunucos estão fazendo flores nas torres de marfim,
Mas eu estou é no meio do mundo.

O rumor das ruas confunde-se ao ritmo do teclado da máquina.
Metralhadoras escrevem poemas no teclado da máquina.
Cavalos estão batendo patas no teclado da máquina.
Gente lutando,
Suando,
Amando, nas cinco partes do mundo.

Quem pode escrever poemas de solidão,
Se portas trancadas nada valem,
Se mãos nos ouvidos nada valem,
Se, fazer o papel do surdo que não quer ouvir, nada vale,
Se os olhos dos moribundos ficam, no alto, iluminando as páginas,
Se mãos alvas vem acender o cigarro, devagarinho,
Se o rumor da rua vem fazer coro ao ritmo do teclado da máquina?
Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.

Camillo de Jesus Lima


Camillo em 1937

Camillo de Jesus Lima (Caetité, 8 de setembro de 1912 — Itapetinga, 28 de fevereiro de 1975) foi um poeta brasileiro.

Como ocorria a todos os estudantes daqueles tempos, Camillo simpatiza com as idéias comunistas. Qual seu tio-avô Plínio de Lima, que abraçara a causa da igualdade entre os homens com o abolicionismo, Camillo defende uma sociedade mais justa, e irá pagar alto preço por isto.
Tornando-se tabelião ("oficial de registro de imóveis e hipotecas"), mora em Vitória da Conquista, Macarani e Itapetinga. Talentoso, desdobra-se em jornalista, escritor, professor, deixando extensa obra literária, do romance ao conto, mas é na poesia que se consagra, já em 1942, com o livro Poemas, recebedor do Prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras (edição de "O Combate", que publicou quatro de seus livros).

Também publicou: As Trevas da Noite Estão Passando ("O Combate", em colaboração com Laudionor Brasil, poemas, 1941); Viola Quebrada ("O Combate", poesia, 1945); Novos Poemas ("O Combate", id., ib.); Cantigas da Tarde Nevoenta ("Edição de Artes Gráficas - Salvador", poesia); Memórias do Professor Mamede Campos (romance); A Mão Nevada e Fria da Saudade ("Edições MAR", poesia), A Bruxa do Fogão Encerado (contos); Vícios (contos); Bonecos (Perfis); O Livro de Miriam (Poesia, 1973, impresso na gráfica de "O Jornal de Conquista" para "edições MAR"); Cancioneiro do Vira-mundo (Poesia), e outros tantos escritos, publicados em todo o país, muitos ainda inéditos.

Mesmo longe dos centros culturais do país, Camillo fervilha com a pena na mão. Sua poesia plena de lirismo cativa, e tem em Vitória da Conquista, num tempo onde surgem Glauber Rocha, Elomar e outros, um meio artístico incomum, que, por produzir pensamentos, provocou reação junto àqueles para quem o pensar e a palavra eram armas perigosas, a ser combatidas… Wiki


Para saber mais:

  • Poeta Camillo: Excelente blog sobre o poeta Camillo de Jesus Lima, organizado por seu filho Luiz Carlos de Jesus Lima, com poemas, depoimentos, vídeos, homenagens, frases, documentos, fotos e artigos de jornais e revistas.
  • #100Camillo: O poeta proletário, homenagem, de 2012, ao centenário do poeta em Conversa de Balcão
  • Vídeo: Viola Quebrada. Uma poesia de Camillo de Jesus Lima em Youtube.com








terça-feira, 6 de setembro de 2016

Vida sentida


Na escravidão dos sentidos, tudo é estranhamente igual, o lado doce, o apimentando e o louco lado normal. Há doces na senzala e eu tenho a chave, também há condimentos na mata e eu sinto seu cheiro. Posso viver sentando no toco cortado, ou com as mãos nos grilhões dos troncos, no fundo do terreiro. Não importa a escolha, ambos são cativeiros. Eu sinto o cheiro da vida na mata, uma mistura fina, de grama molhada com estrume de pássaro. Quem sabe se eu acertar o caminho, um lindo pássaro não cague na minha cabeça. Eu riria da gentileza.  E se eu morrer no caminho, que eu alimente os abutres e que eles voem para longe, me depositando em outro local. E que meu crânio seja visto, como aviso, de que libertos mantêm um sorriso.

Na liberdade dos sentidos, tudo é diferente, não há lado certo, correntes e o lado avesso é o que vai à frente. Há céu da boca, lábios melados e baba de moça, também há pimenta vermelha, daquelas que excitam com o cheiro. Posso viver num local, amando docemente, até que enjoem, ou com as mãos ocupadas o ano inteiro, em diferentes locais. Não importa a escolha, ambos são cativeiros. Eu sinto o cheiro da vida na cidade, uma mistura confusa, de assalto dos sentidos, com arroubos de momentos. Quem sabe se eu errar o caminho, uma linda ladra me rapte. Eu riria da esperteza. E se eu viver nesse caminho, que não seja apontado sozinho e nosso maior pecado, seja perder a cabeça. E que ela fique perdida, como aviso, de que carne procura carne, para perder o juízo.

Na escravidão e liberdade dos sentidos, não há caminho correto, nem escolha errada, pois todo momento é vida.

Joakim Antonio

Imagem: Spicy Cone by Stridsberg
Model: The lovely Li

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Concursos Literários do Mês de Setembro de 2016




Concursos Literários do Mês de  Setembro de 2016 


Confira também a lista completa dos Concursos do Ano e a lista das Seleções Permanentes.

As datas nos tópicos referem-se ao prazo limite para realizar a inscrição.

Legenda:
$ - Prêmio em dinheiro
@ - Inscrição pela internet
# - Voltado a público restrito


Lista dos concursos em aberto - Setembro


Setembro



02.09.2016 - XXV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos ($)

02.09.2016 - CLICA 2016 - Concurso Literário "Altamir Tibiriçá Pimenta" (#Caraguatatuba - Contos, Poemas, Crônicas - $)

02.09.2016 - 1º Prêmio Flink de Literatura (#Brasil)

09.09.2016 - Prêmio Literário Biblioteca Nacional (#Brasil - Livros Publicados - $)

11.09.2016 - Antologia - "Damas do Império" (Contos - @)

15.09.2016 - Concursos Literários do Centro de Escritores Lourencianos (@)

15.09.2016 - 5º Concurso Literário da AML (Contos e Poemas)

16.09.2016 - Prémio Literário Casino da Póvoa (#Portugal - $)

21.09.2016 - Prêmio Literários da FCP (#Brasil - Livros Inéditos)

26.09.2016 - 35.º Concurso Literário da UNISO (Crônicas - @)

30.09.2016 - Prêmio Barueri de Literatura (#Brasil - $)

30.09.2016 - VI Concurso de Contos Cidade de Lins (#Brasil - Contos - $)

30.09.2016 - IV Concurso de Poesia “Regina de Souza Marques Almeida” ($)

30.09.2016 - 9º Concurso de Haicai “Masuda Goga”

30.09.2016 - III Concurso Bunkyo de Contos (Contos - @ - $)

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