Ela não soube, ou até soube e eu que não sei, as conversas estreitas que poderíamos ter.
Iríamos jogar conversas fora e depois recolhê-las do ar, condensá-las em textos maravilhosos de aprendizados raros, e mesmo tentado a escrever diálogos, eu apenas narraria a beleza de beber dessa poesia que flui desse mar chamado Cecília.
Talvez discutiríamos sobre espaço-tempo, de como disputas tolas são vencidas por ele e as palavras certas passam através, então falaríamos um pouco de solidão, da autoimposta e da não esperada, do esquecimento pela ausência e de como a encontro bem menos do que ela merece.
Por fim, pediria conselhos de escrita da educadora, dicas de mãe da escritora e mostraria, com intenção de receber mais críticas que elogios, textos recheados de sonhos e destinados às novas e velhas crianças.
Agora fecho o livro e penso, com certeza ela soube.
Joakim Antonio
Motivo (Cecília Meireles)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.
Sua poesia, traduzida para o espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, húngaro, hindu e urdu, e musicada por Alceu Bocchino, Luis Cosme, Letícia Figueiredo, Ênio Freitas, Camargo Guarnieri, Francisco Mingnone, Lamartine Babo, Bacharat, Norman Frazer, Ernest Widma e Fagner, foi assim julgada pelo crítico Paulo Rónai:
"Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo...A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea."
© Projeto Releituras Visite e conheça mais de Cecília Meireles.