“Mulher sertaneja, livre, turbulenta, cultivadamente rude... |
Cora Coralina, de Goiás
Este nome não inventei, existe mesmo, é de uma mulher que vive em Goiás: Cora Coralina.
Cora Coralina, tão gostoso pronunciar esse nome, que começa aberto em rosa e depois desliza pelas entranhas do mar, surdinando música de sereias antigas e de dona Janaína moderna.
Cora Coralina, para mim a pessoa mais importante de Goiás. Mais do que o Governador, as excelências parlamentares, os homens ricos e influentes do Estado. Entretanto, uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção, e identificada com a vida como é, por exemplo, uma estrada.
Na estrada que é Cora Coralina passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje. O verso é simples, mas abrange a realidade vária. Escutemos:
"Vive dentro de mim/ uma cabocla velha/ de mau olhado,/acocorada ao pé do borralho, olhando pra o fogo." "Vive dentro de mim/a lavadeira do rio Vermelho. Seu cheiro gostoso d'água e sabão." "Vive dentro de mim/a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute bem-feito." "Vive dentro de mim/a mulher proletária./Bem linguaruda,/desabusada, sem preconceitos." "Vive dentro mim/a mulher da vida./Minha irmãzinha.../tão desprezada /tão murmurada...".