Mais do que afetar sua visão interior, ler é o pilar central na formação, não só do escritor, mas principalmente, do cidadão. Como disse Monteiro Lobato, “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.”, fato incontestável, pois não basta ler, é preciso compreender.
Lembro que um dia, o professor explicou que os melhores escritores leram muito antes de se tornarem ótimos escritores. Isso ficou na minha cabeça durante anos como regra absoluta, até conhecer pessoas que praticamente não liam, mas eram mestres da palavra e verdadeiros sábios da vida, foi aí que pensei numa concepção diferente da palavra ler.
LER = Ler, Escutar, Recontar
De onde surgiu essa concepção? Eu tinha um exemplo em casa. Minha mãe contava histórias que são verdadeiras parábolas, várias começadas com “minha mãe contava uma história quê…”, suas histórias ganham vida devido à riqueza de detalhes e o principal, todas suas histórias surgem no momento certo, devido a algum acontecimento atual, ouvido no rádio de cabeceira, visto na TV ou vivido por nós. Ela teve pouca instrução aprendendo apenas o ABC da roça, ler, escrever e trabalhar no sol a pino, mas com um detalhe a mais, conservado especialmente nos sertões, talvez pela forte cultura indígena, a tradição oral. O contar e recontar histórias, lidas pelos mais letrados ou passadas de geração em geração junto à fogueira, à mesa após as refeições ou em versos pelos poetas da vida.
Continuei observando e conhecendo ótimos escritores sem muita instrução, que assim como meus antepassados quase não leram, mas em compensação suas palavras ao serem passadas para o papel, tornam-se verdadeiras obras de arte. Meu tio era um verdadeiro contador de causos, mas os melhores são os que se contam dele, verdadeiro matuto dos contos de Monteiro Lobato. Avós, irmãs, tios, primos e até mesmo amigos da família, cada um com seus contos, me tornaram também um contador de histórias.
Notei que todas essas pessoas, mesmo as que leem muito, têm o hábito de escutar e recontar o que leem. Eu, quando escrevo algo, a primeira coisa que faço é ler em voz alta, escutando e observando os erros, logo após leio para alguém e depois tento recontar a mesma história, melhorando em cada passo. Se parar para olhar detalhadamente, desde criança conto histórias, lembro que um dia era padre, no outro ator de cinema, herói, bandido, sempre arrastando os amigos para dentro do meu mundo de histórias, fazendo isso até hoje. Quando falo de um filme, livro, revista, site, as pessoas já perguntam como podem ler, ver, comprar, porque eu não conto simplesmente, eu reconto a história teatralizando os movimentos, a voz, as expressões e seguindo sempre, automaticamente, os princípios da minha concepção de ler.
Lendo muito e sentindo o texto, absorvendo sua essência.
Escutando as palavras do personagem ou do contador da história.
Recontando a história e acrescentando o meu olhar a ela.
Faça a experiência. Tente você também recontar aos seus amigos, família ou grupo de crianças (que acho bem mais divertido), a história que leu ou até um fato que você viu, e logo verá que estará contando suas próprias histórias.
Quem sabe não há mais do que pensa dentro de você. Quanto a mim, ainda sou a mesma criança que continua contando histórias para os amigos. Vem comigo!
Joakim Antonio
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