sábado, 26 de novembro de 2016

Encontro


Não dava mais tempo, já estava amanhecendo e ela estava tão perfeita. Foi à base de bala de hortelã mesmo. Único recurso disponível no bolso direito da camisa de caipira, pois do lado esquerdo havia apenas algo roto. Já ela, que vivia bem arrumada, trazia no rosto uma expressão de receio, mesmo de máscara o sorriso a entregava.

Ele não sabia, mas ela até brincava com as amigas, que fazia tanto tempo, que nem sabia mais como se beijava. Até parece, há coisas que já se nasce sabendo, ou no mínimo, ninguém esquece. Assim como ela não conseguia parar de pensar em sua adolescência, no dia que treinou tanto beijando a própria mão, que ficou com uma marca roxa nela.

Será que ele também pensava em outra coisa, porque agora ela pensava em mil. O rímel que borrou, ao chorar por pensar que nunca mais arrumaria um namorado, o cabelo despenteado de tanto dançar e a falta de um espelho no banheiro (quem não coloca espelho no banheiro, pelo amor de Deus). Ah, além disso, não podia sujar o vestido, pois o aluguel foi caro e só tinha branco. Isso que dá deixar tudo pra última hora.

Ele foi chegando perto e os pensamentos se multiplicando, retirou sua máscara e deu o melhor beijo que ela já experimentou, nesse momento ouve aquela explosão de estrelas, cada uma em forma de mais e mais perguntas.

Ela não percebeu, mas por um momento o rosto dele mudou, com um pensamento insistente, daqueles que gritam alto e não se calam.

Caralho, não trouxe camisinha porra!

Joakim Antonio


Imagem: Máscara by JoaKim

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