quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sorriso besta



Toda mulher, desarmada, é criança a brincar. É quando libera seu melhor sorriso, nem sempre o mais bonito e quase sempre o que ela acha o mais besta, no entanto, é o mais sincero e gostoso que ela poderia nos dar.

Joakim Antonio


This is my face - Carlijn by ByLaauraa

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Simplificando - Descortinando Mario Quintana (poeta)



Quando saía à rua,
evocava Tolstói.
Fugia de casa,
aberto a caminhos,
seguindo
alma e coração.
Num momento inesperado,
ele chegou.
Veio ao mundo
já sabendo,
que o tempo,
não passa de ilusão.
Farmacêutico da vida,
receitou o simples.
Letras certeiras
são remédio, que
descomplicam dores,
sem remediação.
A linha do seu destino,
o poeta escreveu.
Desde menino,
dando mão ao sonho,
fez da vida
linda canção.

Joakim Antonio



A verdadeira arte de viajar 

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, 
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. 
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... 
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando! 


(Quintana in “A cor do invisível”) 





Mario Quintana nasceu em Alegrete, dia 30 de julho de 1906 e, com 20 anos, vem morar em Porto Alegre. Morou no Hotel Majestic de 1968 a 1980.

Publicou mais de 20 livros, sem contar as antologias. O primeiro, aos 34 anos, “A Rua dos Cataventos”. O último, em 1990 “Velório sem Defunto”. Com Sapato Florido, Pé de Pilão, Caderno H, Esconderijos do tempo, Lili inventa o mundo, consagrou-se como poeta do cotidiano e lirismo, e um dos ícones da literatura brasileira.

Poeta, jornalista e tradutor, trabalhou nos Jornais O Estado do Rio Grande e no Correio do Povo (com sua coluna Caderno H). Como tradutor, notabilizou-se com sua impecável tradução de Proust. Traduziu a literatura européia, como Giovani Papini, Virginia Woolf, Voltaire, entre outros.

Morreu em 5 de maio de 1994, aos 87 anos, imortalizado pela Casa de Cultura que leva seu nome e, principalmente, pelo Quarto do Poeta, uma reconstituição fiel com móveis e objetos pessoais do escritor.

Clique Aqui para ler matéria em comemoração aos 100 anos do poeta.


Imagem 1: Quarto V by  Itamar Aguiar


Imagem 2: CCMQ by Liane Neves

terça-feira, 29 de julho de 2014

Triste sincronia



Sincronicidades na escrita. O que vejo como ligação, do escritor, ao vórtice original, Deus, deuses, musas, enfim, entidades mil ou apenas o nada, de onde se origina tudo. Alguns vêm apenas cópia, plágio, criação frágil de uma mente sem nenhuma inspiração. Pena que vejam somente assim, pois antes que possa elogiá-los, me entristeço, ao ver um falar do outro e jogando a beleza da poesia no ralo, após o duelo de egos, pelo direito a divina criação. Quando deveriam ver que ambos estão conectados, não só à poesia, mas sim conversando, de coração pra coração.

"Minha maior certeza do caminho é quando, ao ler quem admiro, vejo que ele também estava lá."

Joakim Antonio


Imagem: The Birds by Sbadreddine



domingo, 27 de julho de 2014

Fake Poetry



Vivemos a era do imediato
o bardo I-media top
nem é poeta
é um simulacro

Joakim Antonio


Imagem: The mask we wear by MidnightJoint

sábado, 26 de julho de 2014

Criança pererê - Descortinando Cassiano Ricardo (poeta)





Criança pererê
vive a pular
um pé na oca
outro na cidade
hora verde
hora amarela
resquícios culturais
de antigas verdades
resquícios modernos
de civilidade

Criança pererê
quando dá
pula e sobe
no pé que quiser 
em casa touca
na rua boné
no quintal
vestes poucas
na rua
da cabeça aos pés

Criança pererê
a brincar
de rei do mundo
perfeitamente
conjugado
hipocritamente
correto
puramente ingênuo
sem saber
que realmente é rei

Joakim Antonio



Poética

1
Que é a Poesia?

Uma ilha
Cercada
De palavras
Por todos
Os lados.

2

Que é o Poeta?

Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu rosto.
Um homem
Que tem fome
Como qualquer outro
Homem. 

CASSIANO RICARDO





Quarto ocupante da Cadeira 31, eleito em 9 de setembro de 1937, na sucessão de Paulo Setúbal e recebido pelo Acadêmico Guilherme de Almeida em 28 de dezembro de 1937. Recebeu os Acadêmicos Fernando de Azevedo e Menotti del Picchia.

Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 26 de julho de 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 14 de janeiro de 1974.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Distraído - Descortinando Hart Crane (poeta)



Distrações são vivas
nos levam pelo braço
passeando entre espaços
dentro do próprio ser

Distrações são traiçoeiras
aproveitam nosso cansaço
e sem fazer estardalhaços
nos deixam a sua mercê

Distrações são vazios
de crescimento rápido
criando mais espaços
a nos conter

Distrações são borrachas
apagando fino traço
nos tornando fracos
trazendo o esquecer

Joakim Antonio


Esquecimento é como uma canção
Que, sem ritmo e medida, perde-se.
Esquecimento é um pássaro de asas harmonizadas,
Abertas e imóveis —
Um pássaro que plana ao vento, incansavelmente.

Esquecimento é chuva noturna,
Ou uma casa velha na floresta — ou uma criança.
O esquecimento é branco — branco de árvore ressecada.
E pode atacar a Sibila¹ em profecia,
Ou enterrar os deuses.

Eu posso lembrar muitos esquecimentos.

Hart Crane, ESQUECIMENTO 

Hart Crane (21 de julho de 1899 – 27 de abril de 1932) foi um poeta modernista dos Estados Unidos.
Começou a escrever poesia moderna quando foi viver para Nova Iorque, influenciado por Pound e Eliot, escrevendo ainda em formas tradicionais e arcaicas. Em 1926, quando publicou sua primeira coleção de poemas ainda sofria influência simbolista.

Após a publicação de Bridge, em 1930, livro cheio de otimismo em relação aos EUA, Hart Crane entrou numa profunda depressão, embora continuasse a produzir em estilo requintado.
Depois de obter uma bolsa de estudos no México e de se mudar para lá por algum tempo, na viagem de regresso, Crane suicidou-se atirando-se ao mar.

Embora considerado por muitos de difícil compreensão, e tendo falecido jovem, tornou-se num dos poetas mais influentes da sua geração, sendo citado, muito posteriormente, em Howl e outros poemas, de Allen Ginsberg. WIKI



Par saber mais:

Português


English



1. Sibilas são um grupo de personagens da mitologia greco-romana. São descritas como sendo mulheres que possuem poderes proféticos sob inspiração de Apolo. WIKI

Imagem: Hart Crane by David Alfaro Siqueiros

domingo, 20 de julho de 2014

Jogando-se - Dia do Amigo



Então se seus amigos se jogarem da ponte, você também se joga?

Com toda certeza mãe, ainda por cima, sorrindo.

Joakim Antonio



Cada um sabe o momento que vive e os amigos que tem, uns mais íntimos, outros apelidados de colegas e alguns mais, tidos apenas como conhecidos. Há os amigos virtuais, bem reais e também os imaginários, que existem ou não, dependendo da força da sua imaginação. Mas se fazemos algo juntos, uma coisa é certeza, há algo ali que nos faz realmente bem.

Um grande abraço a todos que me fizeram, me fazem e farão muito bem.

Feliz dia do amigo!




Dia do amigo

O Dia do Amigo é uma data proposta para celebrar a amizade entre as pessoas. No Brasil, Uruguai e Argentina, a data mais difundida para esta celebração é 20 de julho, aniversário da chegada do homem a lua. Em 27 de abril de 2011, a Assembleia Geral das Nações Unidas resolveu convidar todos os países membros a celebrarem o Dia Internacional da Amizade em 30 de julho.



No Brasil, apesar de não ser instituída por lei, o dia do amigo é também comemorado popularmente em 18 de abril. No entanto, o país também vem adotando a data de 20 de julho, sendo inclusive instituída oficialmente em alguns estados e municípios. Fonte: Wikipédia


Imagem: Friends by Nuno Ramos

sexta-feira, 18 de julho de 2014

46664 - Prisioneiro da Paz - Descortinando Nelson Mandela (pacifista)




Diário de uma prisão Planeta Terra, dia 18 ano 67

Alguns se vêm presos pela carne, classe, status, destino. Outros pelas palavras ditadas, pelos ditos superiores, que se acham com mais estudo, a cor mais certa, a munição mais parruda. Há aqueles que vivem presos às memórias da infância, das oportunidades perdidas, do pouco que tinha e lhe foi tomado. Ainda há os que vivem presos por conveniência, para alegrar aos pais, aos filhos, a sociedade e ao seu íntimo.

Passei por tudo isso, vivenciando e observando. Vi meu povo e amigos morrendo e aprendi que o ódio que sentia, apenas se multiplicaria, se o deixasse preso dentro de mim. Ao longo de todo tempo, mantive meus princípios e por isso, mesmo preso, fui livre.


Eu fui detido pela guerra, mas fui preso pela paz.


Joakim Antonio

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Confissões - Descortinando Anne Sexton (poeta)





Enquanto você canta
Nem às paredes confesso
Lhe alerto que fuja
Ainda secreta e pura
Não suja por mim

Pois como já fui
Ainda estando
Sou menos que anjo
Com desejos mundanos
Despertos por ti

Não ligo pra eles
Pois já sou liberto
Me toco por fora
Te toco por dentro
Em grande frenesi

Seremos loucos
Em confissão mútua
Propondo batalhas
Num corpo a corpo
Respondendo sim

Joakim Antonio

"Não acho que escreva poemas públicos. Escrevo poemas muito pessoais, mas espero que eles se tornem no tema central da vida privada de outras pessoas." 

Anne Sexton 

domingo, 13 de julho de 2014

Cren-dós-padre - Descortinando Cornélio Pires (escritor)



Meia noite na porta do cemitério.

Cren-dós-padre de atravessá o cemitério agora Zé.
Ocê que é besta sô, vamu logo Toin!
Mais Zé, hoje é dia de finadu, eles tão tudo sorto aí dentro.
Ocê carece de sê mais home Toin, além dos mais, eu tenho o corpo fechado.
Avai, tem mesmo?
Craro ué, tá vendo argum buraco aqui, só da cara, osotro que tem os pano tapa.
Deixa de sê besta homi, ainda fica zuando, agora que num vô mesmo,
Então fica aí, quando ocê chegá eu já to dormindo é tempo.
Vai cum Deuso e Nosso Sinhô Jesus Cristo, inté!
Tá, tá, tá, tá, inté. Diz Zé, sem nem olhar apara trás.

Já no meio do cemitério

Esse Toin parece criança, acreditando em sombração.
Comé quié amigo?
Ô, qui bão encontrá mais arguém aqui, o povo morre di medo, vê si pode.
Pois é, não sei porquê.
São tudo caipira sô, isso é culpa dos mai véi, botando caraminhola na cabeça do povo.
Será amigo? Eu sou bem mais velho que você.
Ué e não tem medo di passá pelo cimitério essas hora.
Quando eu era vivo tinha!
Cren-dós-padre, mi acuda Nosso Sinhô!!!!

Zé deu no pé e nunca mais duvidou de nada nessa vida.

Se é verdade eu num sei, mas foi assim que minha vó contou.

Joakim Antonio


“Meio escritor, meio ator, meio animador; generoso, combativo, empreendedor, simpático – a sua maior obra foi a ação nos palcos nas palestras na literatura falada que perde bastante quando é lida. Como os oradores, como certo tipo de poetas, como os repentistas e os velhos glosadores de mote, a dele foi uma literatura de ação e comunhão direta, eletrizante, com o público”.  Dantas, M., Cornélio Pires Criação e Riso - ed. Duas Cidades. Prefácio de Antonio Candido¹





Cornélio Pires (Tietê, 13 de julho de 1884 — São Paulo, 17 de fevereiro de 1958) foi um jornalista, escritor, folclorista e espírita brasileiro.

Foi um importante etnógrafo da cultura caipira e do dialeto caipira.


Iniciou a sua carreira viajando pelas cidades do interior do estado de São Paulo e outros, como humorista caipira.

Em 1910, Cornélio Pires, apresentou no Colégio Mackenzie hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros, e duplas de cantadores do interior. O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia.
Ambicionando cursar a Faculdade de Farmácia, deslocou-se de Tietê para a cidade de São Paulo, a fim de prestar concurso de admissão. Não tendo obtido sucesso em seu intento, conseguiu empregar-se na redação do jornal O Comércio de São Paulo. Posteriormente trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, onde desempenhou a função de revisor. A partir de 1914, passou a trabalhar no periódico O Pirralho.

Foi autor de mais de vinte livros, nos quais procurou registrar o vocabulário, as músicas, os termos e expressões usadas pelos caipiras. No livro "Conversas ao Pé do Fogo", Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu "Dicionário do Caipira". Na obra "Sambas e Cateretês" recolhe inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro. A importância de sua pesquisa começa a ser reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antonio Candido, professor na Universidade de São Paulo, o nosso maior estudioso da sociedade e da cultura caipira, especialmente no livro Os Parceiros do Rio Bonito.

Foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1928, em discos de 78 Rpm, a música caipira. Segundo José de Souza Martins, Cornélio Pires foi o criador da música sertaneja, mediante a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira (dança ritual indígena, durante muito tempo vedada às mulheres, catolicizada no século XVI pelos padres jesuítas), no cururu (dança indígena que os missionários transformaram na dança de Santa Cruz, ainda hoje dançada no terreiro da igreja da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, por descendentes dos antigos índios aldeados, nos primeiros dias de maio, na Festa da Santa Cruz, a mais caipira das festas rurais de São Paulo).

A criação de Cornélio Pires permitiu à nascente música caipira comercial, que chegou aos discos 78rpm libertar-se da antiga música caipira original, ganhar vida própria e diversificar seu estilo. Atualmente a música caipira é chamada de música raiz para se diferenciar da música sertaneja. A música caipira dos discos 78rpm nasce, no final da década de 1920, como o último episódio de afirmação de uma identidade paulista após a abolição da escravatura, em 1888, que teve seu primeiro grande episódio na pintura, especialmente a do Ituano Almeida Júnior, expressa em obras como "Caipira picando fumo", "Amolação interrompida", dentre outras. A ironia e a crítica social da música sertaneja originalmente proposta por Cornélio Pires, situa-se na formação do nosso pensamento conservador, que se difundiu como crítica da modernidade urbana. O melhor exemplo disso é a "Moda do bonde camarão", uma das primeiras músicas sertanejas e uma ferina ironia sobre o mundo moderno.

Após encerrar a sua carreira jornalística, Cornélio Pires organizou o "Teatro Ambulante Cornélio Pires", viajando com o mesmo de cidade em cidade, aplaudido por onde passava.

Cornélio Pires é primo dos escritores Elsie Lessa, Orígenes Lessa, Ivan Lessa, Juliana Foster e Sergio Pinheiro Lopes. WIKI

1. Retirado do artigo AS AVENTURAS DE CORNÉLIO PIRES de Arlete Fonseca de Andrade em PUCSP

Para saber mais:

  • O Paratodos colocou o pé na estrada e foi até Tietê, no interior de São Paulo, conhecer o trabalho de um pesquisador que dedicou boa parte de sua vida à cultura caipira: o jornalista, escritor e folclorista Cornélio Pires em  Youtube.com 
  • Cornélio Pires, uma canturia e um causo divertido, num curto vídeo em YouTube.com  




Imagem: Hi-Speed-Quadrilha by Roobens

sábado, 12 de julho de 2014

Renascendo - Descortinando Pablo Neruda (poeta)



"Sua maciez chegava, voando por sobre o tempo, sobre o mar..." 
(Quem Morre - Pablo Neruda)

Pequena Morte*

Na primeira vez, acordei primeiro e fiquei olhando ela dormir, seu peito subia e descia calmamente, compassadamente como um relógio preciso, já era dia e eu amei estar ali. Continuávamos abraçados, encaixados, não era mais virtual e continuávamos conectados. Admirava seu semblante calmo, amável, havia um leve sorriso mesmo estando dormindo. Deslizei as costas da mão pelo seu rosto, descendo pelo pescoço, por sua pele cor de bronze e seu cabelo agora selvagem, depois da guerra travada ali naquele campo de batalha. Como agora, não tinha o mínimo de sono, queria guerrear mais, mas também adorava ver ela em paz. Ainda mais quando a paz era dupla, pois nessa luta ninguém sai perdendo apesar de acabarem os dois morrendo. Uma pequena morte é verdade, mas que sempre é buscada, pois com ela o corpo para no tempo e apenas por um momento, as almas se fundem, voam e dançam para retornarem completas, repletas um do outro e de si mesmos. E todo dia eu quero morrer de novo.

Joakim Antonio 

"Dois amantes felizes não têm fim nem morte, nascem e morrem tanta vez enquanto vivem, são eternos como é a natureza." Pablo Neruda 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Imbróglio - Descortinando Luis de Góngora (poeta)





Apenas mais um simples sonetinho
Feito de uma maneira assimétrica
Desrespeitando os senhores da métrica
Não muito, mas apenas um pouquinho

Feito com a mesma doçura e carinho
Passando longe da mais pura estética
Sem nenhuma bela forma geométrica
Mas rimando assim, aquele tantinho

Fiz um sonetinho quase gongórico¹
contado nos dedos e de cabeça
aparentemente, um grande imbróglio

De quem não entende nada de letras
nem de dório, nem jônio, só simplórios
sem diplomas, mas com folha e caneta

Joakim Antonio

1. Gongórico: 
Que pertence ou se refere a Luis de Góngora y Argote (1561-1627, poeta espanhol). 

Que é apurado, rebuscado, requintado, trabalhado.





 



Ora que a competir com teu cabelo
ouro brunhido ao sol reluz em vão,
e com desprezo, no relvoso chão,
vê tua branca fronte o lírio belo;

ora que ao lábio teu, para colhê-lo,
se olha mais do que ao cravo temporão,
e ora que triunfa com desdém loução
teu colo de cristal, que luz com zelo;

colo, cabelo, fronte, lábio ardente
goza, enquanto o que foi na hora dourada
ouro, lírio, cristal, cravo luzente

não só em prata ou víola cortada
se torna, mas tu e isso juntamente
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.

Mientras por competir con tu cabello
GÓNGORA, Luis de Góngora.
Fábula de Polifemo e Galatéia e outros poemas.
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (organização e tradução).
São Paulo: Hedra, 2008.


Luis de Góngora y Argote (Córdova, 11 de julho de 1561 — Córdova, 23 de maio de 1627) foi um religioso, poeta e dramaturgo castelhano, um dos expoentes da literatura barroca do Siglo de Oro.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sofrer por saber - Descortinando Salvador Espriu (poeta)



Muitas vezes invejava
Quem apenas era
Sem olhar

Bastidor do sorriso
Tom de voz
Gesto secular

Tinham olhos tranquilos
Obedeciam às leis
Sabiam ficar

Recolhidos no toque
Se sentindo seguros
No lar-doce-lar

Quem dera pudesse
Obter o saber
Sem queimar

Não veria tristeza
E sempre estaria
Em paz


Joakim Antonio






O sonho de liberdade tornou-se a cadeia
que me liga já para sempre ao meu canto doloroso.
Compadeci-me dos homens, da fria tristeza
do estranho tempo dos homens enterrados na morte,
e lhes trazia cristal e ardor de palavras,
luminoso nome que dizem os velhos lábios do fogo.
Águia, vinda do nascimento da luz,
de onde vês como é concebida a brancura da neve,
busca, para a luz, a mais secreta vida:
pelo sol, palpitante, toda a nua vida.
Abrirás com o bico eternamente caminhos
ao sangue que ofereço como a prova deste dom.


Prometeu, tradução de Ronald Polito.
2002: Quatorze, de Salvador Espriu.
Curitiba: Travessa dos Editores.


Salvador Espriu i Castelló (10 de julho de 1913 - 22 de fevereiro de 1985) é um poeta, dramaturgo e romancista catalão.

O crítico espanhol Josep Maria Castellet destaca a capacidade de Espriu para assimilar a herança mítica da humanidade, integrando num mesmo universo literário o Livro dos Mortos do Antigo Egipto, a Bíblia, a mística judaica e a Mitologia Grega.

Foi um dos grandes renovadores da prosa catalã em conjunto com Josep Pla e Josep Maria de Sagarra. Da sua extensa obra a mais bem conhecida é A pele do touro (título original: La pell de brau) em que desenvolve a sua visão da problemática histórica, social e cultural de Espanha.

A sua poesia do pós-guerra é marcadamente hermética e simbólica, assinalando uma profunda tristeza pelo mundo que o rodeia e pela recordação dos horrores da guerra. WIKI



Para saber mais:


  • Biografia de Salvador Espriu na Wikipédia
  • Três poesias de Salvador Espriu em Poetanarquista
  • Presença(s)de Salvador Espriu no sistema cultural galeguista (2003) - Maria Felisa Rodriguez Prado - Grupo GALABRA - Universidade de Santiago de Compostela em PDF




Imagem: Prometheus by Misojace (Statue of Prometheus at the Altes national Gallery in Berlin.)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Amigos de La Fontaine - Descortinando La Fontaine (poeta)



Tá de barriga cheia né, safado?
Um queijinho cai bem de vez em quando né, hipócrita?
Euuu?
Não, eu mané. Você mesmo, que gosta de roubar coisas dos filhotes inocentes.
Ha, ha , ha, pelo menos eu não roubo comida de corvo.
Eu não roubei nada, caiu e peguei, tá bem.
Tá nervosa, santa?
Ai meu Santo La Fontaine, você fez de novo.
Pois é, não foi?
Queria que todos soubessem o quão sacana você é, e eu, a pobre raposa inocente, sempre caio nas suas provocações.
Vai reclamar com seu pai, o "Santo".
Sua sorte é que eu não ligo para essa parte, o importante é que ao encenar, acabamos ensinando.
É mesmo, finalmente você tem razão.
Ah, não enche meu saco e quer saber de uma coisa, vamos dormir.
Para quê?
Bom, pelo menos eu não me faço de burro!
Burro é em outra história, ha, ha, ha, ha, ha.
Ai meu La Fontaine, pena que você não pode mais mudar a história, eu ia pedir para mudar de papel.
Tá bom, ia ser, a raposa desafinada, ha, ha, ha!
Tsc, tsc, tsc, cala essa matraca e deita aí.
Tá bom, rabugenta, vamos dormir.
Vamos aproveitar, daqui a pouco alguém abre um livro por aí e só poderemos descansar quando acabar a história.
Minha linda história, você quer dizer.
Ai meu...
Tá, tá, tá, não fala nada já to deitando, sua chata. Zzzzzz.... zzzz...
Epa! Calma aí seu corvo mal educado.
Que foi agora, raposa cri-cri.
E eles?
Onde?
Aí, olhando a gente.
Ah, é mesmo, foi mal.
Até amanhã para você que está lendo, ou melhor, diz aí raposa.
Até a próxima história.

Joakim Antonio 

"Sirvo-me de animais para instruir os homens. Procuro tornar o vício ridículo por não poder atacá-lo com braço de Hércules. Algumas vezes oponho, através de uma dupla imagem, o vício à virtude, a tolice ao bom senso... Uma moral nua provoca o tédio. O conto faz passar o preceito com ele; nessa espécie de fingimento, é preciso instruir e agradar, pois contar por contar me parece de pouca monta." Jean de La Fontaine (  Na introdução da sua primeira edição do livro “Fábulas”)  

Brincado - Coluna Palavra Expressa - Retratos da Alma



Brincado, coluna Palavra Expressa no site Retratos da Alma 

"(...) Rumava em direção ao Horto Florestal, com sua mochila repleta de coisas doces, mesmo sem entender direito o porquê. Sabia apenas que era o que sua vontade pedira: afinal, se existem dias amargos, é natural haver dias doces também… e foi justamente o que ocorreu ali, nem tanto pelas guloseimas compradas, mas sim pelo encontro inesperado e maravilhoso (...)"


Clique abaixo para ler o texto completo




Imagens:

1Swing with it by Kaii Marshall

2Always write by pink-kangaroo



segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Dramaturgo - Descortinando Artur Azevedo (poeta e dramaturgo)


"Eles passam pra lá e pra cá, vendo apenas uma cadeira, já ele, no primeiro olhar, vê cenas de uma vida inteira."

Joakim Antonio 


"Quando eu morrer, não deixarei o meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso nem frase que saísse do cérebro; mas com certeza hão de dizer: "Ele amava o teatro", e este epitáfio moral é bastante, creiam, para a minha a minha bem-aventurança eterna." (Artur Azevedo "O Theatro", jornal A Notícia, 22/09/1898.)

Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo ( 7 de julho de 1855 - 22 de outubro de 1908) foi um poeta, dramaturgo, contista e jornalista brasileiro.

Na poesia, foi um dos representantes do Parnasianismo, e isso meramente por uma questão de cronologia, pois era um poeta lírico, sentimental, e seus sonetos estão perfeitamente dentro da tradição amorosa dos sonetos brasileiros.

No conto e no teatro, Artur Azevedo foi um descobridor do cotidiano da vida carioca e observador dos hábitos da capital.

Escreveu cerca de duzentas peças para teatro e tentou fazer surgir o teatro nacional, incentivando a encenação de obras brasileiras. Como diretor do Teatro João Caetano, no Rio, encenou quinze originais brasileiros em menos de três meses.

Artur de Azevedo, consolidou a comédia de costumes brasileira, e tornou-se o principal autor do Teatro de revista, em sua primeira fase. Com uma produção jornalística intensa, deve-se a ele a publicação de uma série de revistas, especializadas, além da fundação de alguns jornais cariocas.

Figurou, ao lado do irmão Aluísio de Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 29, que tem como patrono Martins Pena. Fonte: ABL - Academia Brasileira de Letras

Para saber mais:



Imagem: Rocking Chair by athotmaildotcom

domingo, 6 de julho de 2014

Namastê - Descortinando Tenzin Gyatso (pacifista)


 "Sê gentil sempre que for possível. É sempre possível."

Andar no caos
e nele
descobrir a ordem

Não estar
em paz
por isolamento

De ouvidos
e olhos
fechados

Com cabeça
e corpo
congelados

Quero a paz
que vem
do interior

Queimando
a casca
exterior

E talvez
moldando
a mim

O mundo
mude
também

Joakim Antonio 

Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior. Estas atitudes se refletirão em mudanças positivas no seu ambiente familiar. Deste ponto em diante, as mudanças se expandirão em proporções cada vez maiores." Tenzin Gyatso 

sábado, 5 de julho de 2014

Jean "Multi" Cocteau - Descortinando Jean Cocteau (poeta)


Ele vai, volta e faz tudo ao mesmo tempo, agora.


Não importa a arte que venha depois, de que família veio, se o entenderam ou os apelidos que teve. Ele nunca conseguirá abandonar seu primeiro nome, Poeta é para sempre. 

Joakim Antonio



"Todo poema é um escudo de armas.
Tem que ser decifrado.
Quanto sangue, quantas lágrimas
em troca desses machados,
dessas amordaças, desses unicórnios,
dessas tochas, dessas torres,
desses martelos, dessas plantações
de estrelas e desses campos de azul!
Livre para escolher as faces,
as formas, gestos, tons, atos,
lugares que o agradem,
ele compõe um real documentário
de eventos irreais. O músico
sublinha o ruído e o silêncio."

Jean Cocteau  - Epígrafe do filme Sangue do Poeta

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Estrangeiro Definitivo - Descortinando Adolfo Casais Monteiro (poeta)






Não há fio de Ariadne
nem mesmo caminho
mas há saudade

Não há escassez
de sentimentos
mas há dor

Não há doce partida
tampouco despedida
mas há lágrimas

Não há salvamento
passagem oculta
mas há poesia

Joakim Antonio



"Uns dizem que os meus versos são tristes,/ outros que são abstractos./ Mas eu não tenho culpa que a carne da inteligência/ seja triste, e inteligente." 

Adolfo Casais Monteiro, O Estrangeiro Definitivo




Poeta


Poeta: uma criança em frente do papel.
Poema: os jogos inocentes,
Invenções do menino aborrecido e só.
A pena joga com palavras ocas,
Atira-as ao ar a ver se ganha ao jogo.
Os dados caem: são o poema. Ganhou.

Adolfo Casais Monteiro
Confusão
Edições Presença, 1929.



Adolfo Casais Monteiro (Porto, 4 de julho de 1908 - São Paulo, 24 de julho de 1972), poeta e ensaísta, foi um dos intelectuais portugueses que a ditadura salazarista levou a se exilarem no Brasil. Fez parte do que veio a se chamar “a missão portuguesa”, sendo aqui “recebido e assimilado, pelos colegas brasileiros, como um interlocutor autorizado e indispensável na cena literária nacional”.¹


Conhecido dos brasileiros em especial por seus ensaios dedicados a Fernando Pessoa e por sua extensa colaboração com o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, o português Adolfo Casais Monteiro deixou larga obra crítica e ensaística.


Cinema, teatro, literatura e sociologia são alguns dos temas que ele abordou em seus artigos, cartas, palestras e intervenções em eventos culturais em Portugal e no Brasil, onde ele se estabeleceu em 1954, quando já era reconhecido em seu país natal, inclusive como editor.²


1- “A crítica viva de Casais Monteiro”, de Leyla Perrone-Moisés, in A missão portuguesa, de Fernando Lemos e Rui Moreira Leite, org. S. Paulo: Ed. Unesp; Bauru (SP): Ed. Unesc, 2003, p. 52-60


2- Casais Monteiro, Uma antologia. Leite, Rui Moreira (Organizador): Ed. Unesp, 2012, Sinopse





Para saber mais:







quarta-feira, 2 de julho de 2014

Uma anarquista, graças a Deus - Descortinando Zélia Gattai (escritora)


Memórias são jóias raras e caras, não basta estar lá para obtê-las. Há de se participar do momento, por inteiro, mesmo que ninguém note, porque você assim o quis, sendo apenas mais um objeto na cena da história. Assim é o fotógrafo, mas o que poucos percebem é que desse jeito torna-se história viva, porque além da imagem tátil, possui a volátil que só em sua mente se confina.

Mas quando ele resolve contar toda sua experiência, colocar no papel todas suas memórias, vívidas dentro das fotos e vividas fora delas, nada supera suas histórias, de vidas, pois não há como se fazer objeto indireto na cena, torna-se mais que pretérito imperfeito, faz-se presente e molda-se futuro do pretérito mais que perfeito, pois é dona do momento e seus detalhes, que agora entram, por sua pena, para o sempre da história.

Zélia Gattai era fotógrafa do futuro sem saber, guardou imagens na memória e em álbuns fotográficos até completar 63 anos, quando então começou a nos presentear com todas elas, através dos livros que escreveu.

E isso tudo só se deu porque ela era Anarquista, graças a Deus!

Joakim Antonio

"Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, às amarguras, aos rancores." - Zélia Gattai 

terça-feira, 1 de julho de 2014

O poeta ao céu - Descortinando Alceu Valença (compositor)


No nordeste a poesia impera, o novo nasce até no seco e com bravura e rapidez, toma conta do país.

É de lá que vem Alceu, aquele menino dos Valença, que todo mundo pousa os olhos para ver no que deu. Crescendo em meio ao tradicional misturado com o contemporâneo, absorvendo tudo, das cirandas de menino ao Rock & Blues americano. Construído pelo amor das mulheres, desde a que lhe apresentou a poesia, ainda levado pelas mãos, até as que, levadas por suas mãos, conheceram a poesia.

Talvez fosse inevitável que se tornasse poeta, e como todo poeta, não teve medo de ousar e renovar seu mundo, assim, de verso em verso, Alceu renovou a música, porque além de ousar, ele é daqueles raros que acerta o mote, criando no seu caldeirão a composição certa, que como magia, canta e encanta corações.


Alceu Valença é múltiplo e possui várias alcunhas, mas antes de tudo, ele é um Poeta.


Joakim Antonio 


"Antes de me tornar músico, eu era poeta. Sempre tive atração pela língua portuguesa. Penso muito rápido e a palavra escrita atenua a velocidade do pensamento” - Alceu Valença

Concursos Literários do Mês de Julho de 2014




Concursos Literários do Mês de Julho de 2014 


Confira também a lista completa dos Concursos do Ano e a lista das Seleções Permanentes.

As datas nos tópicos referem-se ao prazo limite para realizar a inscrição.

Legenda:
$ - Prêmio em dinheiro
@ - Inscrição pela internet
# - Voltado a público restrito


Lista dos concursos em aberto - Julho


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