terça-feira, 6 de setembro de 2016

Vida sentida


Na escravidão dos sentidos, tudo é estranhamente igual, o lado doce, o apimentando e o louco lado normal. Há doces na senzala e eu tenho a chave, também há condimentos na mata e eu sinto seu cheiro. Posso viver sentando no toco cortado, ou com as mãos nos grilhões dos troncos, no fundo do terreiro. Não importa a escolha, ambos são cativeiros. Eu sinto o cheiro da vida na mata, uma mistura fina, de grama molhada com estrume de pássaro. Quem sabe se eu acertar o caminho, um lindo pássaro não cague na minha cabeça. Eu riria da gentileza.  E se eu morrer no caminho, que eu alimente os abutres e que eles voem para longe, me depositando em outro local. E que meu crânio seja visto, como aviso, de que libertos mantêm um sorriso.

Na liberdade dos sentidos, tudo é diferente, não há lado certo, correntes e o lado avesso é o que vai à frente. Há céu da boca, lábios melados e baba de moça, também há pimenta vermelha, daquelas que excitam com o cheiro. Posso viver num local, amando docemente, até que enjoem, ou com as mãos ocupadas o ano inteiro, em diferentes locais. Não importa a escolha, ambos são cativeiros. Eu sinto o cheiro da vida na cidade, uma mistura confusa, de assalto dos sentidos, com arroubos de momentos. Quem sabe se eu errar o caminho, uma linda ladra me rapte. Eu riria da esperteza. E se eu viver nesse caminho, que não seja apontado sozinho e nosso maior pecado, seja perder a cabeça. E que ela fique perdida, como aviso, de que carne procura carne, para perder o juízo.

Na escravidão e liberdade dos sentidos, não há caminho correto, nem escolha errada, pois todo momento é vida.

Joakim Antonio

Imagem: Spicy Cone by Stridsberg
Model: The lovely Li

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