quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Nascimento



E antes de nascer, já era verso. Cantado na aldeia, ensinado a gerações, às vezes em segredo de amantes. Declamado ao pé do ouvido, avivando o olhar, tornando-se doce gemido e invadindo o sangue. Primeiro virou minúsculo ponto e em nove meses, cresceu, ganhando vírgulas, acento, letras, palavras, cantos ancestrais. Também ouviu desejos, de que não fosse outra menina, medos de que, como os outros meninos, viesse para ir embora logo. No dia certo, o trovão anunciou e a tempestade veio, houve correria e até carro de polícia, faltando pouco pra nascer nele. Mas a chuva abençoou o momento e em vez de trânsito, ruas vazias. Houve um momento suspenso no espaço-tempo, mas em ninho protegido, passarinho pia alto e todos os medos sumiram. E a poesia daquele dia, foi tão simples, mas tão intensa, que só eles compreendiam.
O verso no olhar gritava, eu te amo, mas só conseguiam repetir:
"Ele nasceu, ele nasceu..."

(afilhado da chuva, nascido na tempestade, anunciado no trovão)


Imagem: New life is born 1 by inextremo

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