Era um dia especial, seu primeiro campeonato de artes marciais. Fora ao Japão visitar a família e ser apresentado ao mestre de seu mestre, que era seu próprio pai. Havia um campeonato na cidade, o mais importante de todos, onde ouvira dizer que seu avô fora o maior campeão de todos os tempos, considerado um samurai por todo país. Seu pai o proibira de pisar os pés em qualquer campeonato, sempre dissera que era apenas ego, mas ele não poderia perder essa oportunidade de ouro, mesmo com o mestre da aldeia lhe dizendo que pela primeira vez encontrou alguém melhor que seu avô, estava cego pelo desejo de testar-se.
Saíra de casa pela manhã, antes dos primeiros raios de sol, pediu a benção de seu pai, receoso de não recebê-la. Seu pai não negou, apenas disse que respeitava sua decisão, mas que não compareceria. Tudo bem, ele pensou, voltarei vitorioso e meu pai sentirá o maior orgulho do lutador que ele moldou.
Agora era sua última luta, fora mais difícil do que pensara, havia mais de mil lutadores no campeonato, lutara com os campeões de todos os pontos do país, inclusive alguns que, como ele, vieram de outros países. Desgastado, agradecia pelos treinos rigorosos no meio da mata, às vezes achava seu pai meio louco, mas nunca o desrespeitara, hoje foi a primeira vez, mas dentro dele havia o desejo incrível de mostrar a ele que era realmente o melhor, seria o melhor presente para seu pai.
Como esperado por todos que acompanharam as lutas, ele venceu, seu nome foi aclamado com uma salva de palmas que durou vários minutos, a memória de seu avô estava viva em tudo, nos troféus, medalhas, no nome do campeonato, e agora, de volta ao seio da família. Não via a hora de chegar em casa e mostrar ao seu pai que não tinha mais nada para aprender, era o melhor de todos os tempos, ganhara até um apelido "O Sol do Ocidente". Agora tinha certeza, não havia no mundo ninguém melhor que ele.
Ao chegar em casa, saiu do carro mas deixou o troféu, medalhas e certificados lá, ia trazer o pai para fora e mostrar a surpresa toda bem arrumadinha, para dar um impacto maior ao abrir a porta traseira da van. Entrou correndo e já falando: Pai tenho uma coisa superimportante para lhe dizer, mas tem que ser lá fora, vamos, vamos.
Ao saírem encontraram uma noite, super estrelada, seu pai olhava para cima extasiado, estático.
- Sabe filho, também tenho que lhe contar uma coisa.
- O quê pai?
- Sabia que eu sempre quis ser astronauta?
- Como? O senhor nunca me disse isso.
- Pois é, meu pai nunca me deixou pensar em nada que não fosse artes marciais, eu não queria que essa fosse sua vida, mas você sempre quis, então esperei você ter certeza do que queria e comecei a lhe ensinar.
- Por isso o senhor não me impediu hoje?
- Isso mesmo, diferente do seu avô, eu decidi respeitar sua decisão. Eu sei que você é o melhor do mundo nas lutas, não importando o resultado e mesmo que tenha perdido não deixará de ser, porque aprendi que não podemos ser os melhores 100% do tempo. E sabe o que mais? Aprendi isso olhando as estrelas.
- As estrelas pai? Disse ele fitando o céu junto ao pai.
- Isso, porque eu era igual a você, queria me provar e brigava muito nas ruas daqui, nunca quis ir para campeonatos, não aguentaria a comparação com meu próprio pai, sabia que o chamavam de "O Sol do Oriente"? Pois é, mas um dia eu voltei a estudar astronomia e aprendi que a Terra, comparada com o Universo é como uma célula minúscula comparada ao tamanho do nosso corpo. Então, toda vez que eu me sentia o senhor do mundo eu olhava as estrelas, para me lembrar de que por maior que eu seja, sempre haverá algo muito mais grandioso. Ser humilde é reconhecer que temos muito que evoluir. Mas o que você queria me dizer de tão importante?
- Eu queria dizer a você pai, meu mestre, que hoje é o dia mais feliz da minha vida. Porque hoje eu aprendi, que ainda tenho muito a aprender.
Os dois se abraçaram e colocaram cadeiras fora de casa, para continuarem contando histórias, admirando o céu e aprendendo, um com o outro.
Joakim Antonio
Hoje é o quinto dia de uma jornada , o assunto de hoje é humildade na bondade, refinamento do amor.
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