A escola onde estudei, não existe mais e isso dá uma tristeza danada de grande. Lembro que chegava de manhãzinha, São Paulo ainda fazia jus ao nome de Cidade da Garoa, e eu, adorava ir derrubando o orvalho que ficava nas folhas pelo caminho. Quando estava bem frio ficávamos brincado com a fumacinha que saia da boca, lembro que fingia fumar um cigarro invisível, o cowboy do cigarro ainda era permitido e galã ainda fumava na tela. Também gostava de brincar de sumir na fumaça da rua, a névoa só deixava enxergar uns cinquenta metros adiante e a avenida até a escola era bem grande.
As tias nos recebiam de braços abertos, mas lembro de uma vez que não queria ficar e bati em uma delas, disso lembro muito bem pois até hoje se minha mãe toca no assunto ela diz, aquela tia que você bateu, fazendo cara de reprovação, notem que eu tinha seis anos.
Adorava descer correndo pelo gramado, pulava muros e árvores, ou passava por entre as pilastras feitas para nos conter, apenas para provar que podia sair e voltar. Na hora do recreio cantávamos uma musiquinha, "Che_gou a hora de me_ren_dar...", havia também a de lavar as mãos que não me lembro, mas ainda não era a do Castelo Rá-Tim-Bum. O dia mais esperado era o do cachorro quente, se bem que todos os dias eram bons.
Passei por lá esses dias, já havia comentado com um amigo, vivendo na Itália agora, que nossa escola não existe mais. Não que ela tenha sido derrubada, mas havia tantas grades em volta e estava tão fechada, que não deu vontade de entrar, pois não foi ali que estudei.
Até minha escola virou local mágico, onde posso ir, somente na minha imaginação, pelo menos há uma vantagem, a escola, os amigos, as tias e os caminhos, serão lindos para sempre.
Joakim Antonio
“Tenho quarenta e seis anos, moreno, cabelos pretos, com meia dúzia de fios brancos, um metro e 74 centímetros, casado, com três filhas e um genro, 86 quilos bem pesados, muita saúde e muito medo de morrer. Não gosto de trabalhar, não fumo, durmo com muitos sonos, e já escrevi 11 romances. Se chove, tenho saudades do sol, se faz calor, tenho saudades da chuva. Vou ao foot-ball, e sofro como um pobre diabo. Jogo tênis, pessimamente, e daria tudo para ver o meu clube campeão de tudo. Sou homem de paixões violentas. Temo os poderes de Deus, e fui devoto de Nossa Senhora da Conceição. Enfim, literato da cabeça aos pés, amigo dos meus amigos e capaz de tudo se me pisam nos calos. Perco então a cabeça e fico ridículo. Não sou mau pagador. Se tenho, pago, mas se não tenho não pago, e não perco o sono, por isso. Afinal de contas sou um homem como os outros. E Deus queira que assim continue." José Lins do Rego falando de si mesmo, em dezembro de 1947; citado em "O moleque Ricardo: romance" - Página xiv, de José Lins do Rêgo - 1973 - 213 páginas
José Lins do Rego 3/6/1901, São Miguel de Taipu (PB) 12/9/1957, Rio de Janeiro (RJ)
Foi um escritor brasileiro que, ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional. Segundo Otto Maria Carpeaux, José Lins era "o último dos contadores de histórias." Seu romance de estreia, Menino de Engenho(1932), foi publicado com dificuldade, todavia logo foi elogiado pela crítica
José Lins do Rego Cavalcanti era filho de fazendeiros. Com a morte da mãe, passou a ser criado pelo avô, num engenho de açúcar. Aos oito anos ingressou no Internato Nossa Senhora do Carmo, onde estudou durante três anos. Em 1912 passou a estudar em João Pessoa. Nesse mesmo ano, publicou seu primeiro artigo em jornal. Três anos depois mudou-se para o Recife, onde concluiu seus estudos secundários.
Em 1919 ingressou na faculdade de direito do Recife. No ano seguinte, passou a escrever uma coluna literária para o jornal "Diário do Estado da Paraíba". Em 1924 formou-se e, no ano seguinte, casou-se com Filomena Masa Lins do Rego, com quem teve três filhas. Em 1925, Lins do Rego assumiu o posto de promotor público na cidade de Manhuaçu, em Minas Gerais, mas no ano seguinte mudou-se para Maceió, onde começou a trabalhar como fiscal de bancos, cargo que ocupou até 1930.
Dois anos depois, José Lins do Rego publicou seu primeiro livro, "Menino de Engenho". Custeado com seus próprios recursos, o livro recebeu críticas favoráveis e tornou-se um grande sucesso. No ano seguinte, publicou um segundo romance, "Doidinho". A partir daí, o editor José Olympio lhe propôs uma edição de dez mil exemplares para o terceiro romance. José Lins do Rego tornou-se um escritor de prestígio, estimado pelo público.
Passou a publicar um romance por ano: em 1934, "Bangüê"; em 1935, "O Moleque Ricardo"; em 1936, "Usina"; em 1937, "Pureza"; em 1938, "Pedra Bonita"; e em 1939, "Riacho Doce".
Nomeado fiscal do imposto de consumo, em 1935, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Voltou a escrever para jornais. Nessa época, tomado também por sua paixão pelo futebol, tornou-se um dos diretores do Clube de Regatas do Flamengo.
Em 1936, publicou seu único livro infantil, "Histórias da Velha Totonha", em edição ilustrada pelo artista plástico Santa Rosa. A partir de então, passou a se destacar também como cronista. Realizou diversas viagens e viu suas obras serem publicadas em vários idiomas.
O livro que é considerado sua obra-prima, o romance "Fogo Morto", saiu em 1942. O autor consagrou-se como mestre do regionalismo. Seu último romance, "Cangaceiros", foi publicado em 1953.
Três anos mais tarde, José Lins do Rego tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras. Em seu discurso de posse, referiu-se ao seu antecessor, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ataulfo de Paiva, como alguém que "chegou à academia sem nunca ter gostado de um poema". A partir desta nota de sarcasmo, seus discursos da academia passaram a ser previamente censurados.
Romancista da decadência dos senhores de engenho, sua obra baseia-se em memórias e reminiscências. Seus romances levantam todo um sistema econômico de origem patriarcal, com o trabalho semi-escravo do eito, ao lado de outro aspecto importante da vida nordestina, ou seja, o cangaço e o misticismo. O autor desejaria que a sua obra romanesca fosse dividida: Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Fogo morto e Usina; Ciclo da cangaço, misticismo e seca: Pedra Bonita e Cangaceiros; Obras independentes: a) com ligações nos dois ciclos: Moleque Ricardo, Pureza, Riacho Doce; b) desligadas dos ciclos: Água-mãe e Eurídice. Prêmios recebidos: Prêmio da Fundação Graça Aranha, pelo romance Menino de engenho (1932); Prêmio Felipe d'Oliveira, pelo romance Água-mãe (1941), e Prêmio Fábio Prado, pelo romance Eurídice (1947).
A obra de José Lins do Rego, bastante conhecida, foi adaptada para o teatro, o cinema e televisão. Em 1956 Lins do Rego publicou "Meus Verdes Anos", um livro de memórias. No ano seguinte morreu de um problema hepático, aos 56 anos, no Rio de Janeiro.
Obs.: A biografia de José Lins do Rego informava equivocadamente que o escritor teria nascido no município de Pilar (Pb). Na verdade, ele nasceu no município de São Miguel de Taipu (Pb), nas proximidades de Pilar. O local de nascimento de Lins do Rego foi, de fato, motivo de dúvida e o próprio site da Academia Brasileira de Letras diz que o escritor nasceu em Pilar. No livro "Onde nasceu José Lins do Rego, afinal?", publicado em 2000, o estudioso Nestor Pinto de Figueiredo esclareceu definitivamente a questão. José Lins do Rego Cavalcanti era filho de fazendeiros. Com a morte da mãe, passou a ser criado pelo avô, num engenho de açúcar. Aos oito anos ingressou no Internato Nossa Senhora do Carmo, onde estudou durante três anos. Em 1912 passou a estudar em João Pessoa. Nesse mesmo ano, publicou seu primeiro artigo em jornal. Três anos depois mudou-se para o Recife, onde concluiu seus estudos secundários.
Em 1919 ingressou na faculdade de direito do Recife. No ano seguinte, passou a escrever uma coluna literária para o jornal "Diário do Estado da Paraíba". Em 1924 formou-se e, no ano seguinte, casou-se com Filomena Masa Lins do Rego, com quem teve três filhas. Em 1925, Lins do Rego assumiu o posto de promotor público na cidade de Manhuaçu, em Minas Gerais, mas no ano seguinte mudou-se para Maceió, onde começou a trabalhar como fiscal de bancos, cargo que ocupou até 1930.
Dois anos depois, José Lins do Rego publicou seu primeiro livro, "Menino de Engenho". Custeado com seus próprios recursos, o livro recebeu críticas favoráveis e tornou-se um grande sucesso. No ano seguinte, publicou um segundo romance, "Doidinho". A partir daí, o editor José Olympio lhe propôs uma edição de dez mil exemplares para o terceiro romance. José Lins do Rego tornou-se um escritor de prestígio, estimado pelo público.
Passou a publicar um romance por ano: em 1934, "Bangüê"; em 1935, "O Moleque Ricardo"; em 1936, "Usina"; em 1937, "Pureza"; em 1938, "Pedra Bonita"; e em 1939, "Riacho Doce".
Nomeado fiscal do imposto de consumo, em 1935, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Voltou a escrever para jornais. Nessa época, tomado também por sua paixão pelo futebol, tornou-se um dos diretores do Clube de Regatas do Flamengo.
Em 1936, publicou seu único livro infantil, "Histórias da Velha Totonha", em edição ilustrada pelo artista plástico Santa Rosa. A partir de então, passou a se destacar também como cronista. Realizou diversas viagens e viu suas obras serem publicadas em vários idiomas.
O livro que é considerado sua obra-prima, o romance "Fogo Morto", saiu em 1942. O autor consagrou-se como mestre do regionalismo. Seu último romance, "Cangaceiros", foi publicado em 1953.
Três anos mais tarde, José Lins do Rego tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras. Em seu discurso de posse, referiu-se ao seu antecessor, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ataulfo de Paiva, como alguém que "chegou à academia sem nunca ter gostado de um poema". A partir desta nota de sarcasmo, seus discursos da academia passaram a ser previamente censurados.
Romancista da decadência dos senhores de engenho, sua obra baseia-se em memórias e reminiscências. Seus romances levantam todo um sistema econômico de origem patriarcal, com o trabalho semi-escravo do eito, ao lado de outro aspecto importante da vida nordestina, ou seja, o cangaço e o misticismo. O autor desejaria que a sua obra romanesca fosse dividida: Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Fogo morto e Usina; Ciclo da cangaço, misticismo e seca: Pedra Bonita e Cangaceiros; Obras independentes: a) com ligações nos dois ciclos: Moleque Ricardo, Pureza, Riacho Doce; b) desligadas dos ciclos: Água-mãe e Eurídice. Prêmios recebidos: Prêmio da Fundação Graça Aranha, pelo romance Menino de engenho (1932); Prêmio Felipe d'Oliveira, pelo romance Água-mãe (1941), e Prêmio Fábio Prado, pelo romance Eurídice (1947).
A obra de José Lins do Rego, bastante conhecida, foi adaptada para o teatro, o cinema e televisão. Em 1956 Lins do Rego publicou "Meus Verdes Anos", um livro de memórias. No ano seguinte morreu de um problema hepático, aos 56 anos, no Rio de Janeiro.
Fonte: Wikpédia, Uol educação e Academia Brasileira de Letras
Imagem: Autumn in Kindergarten by TearsOfCactus
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