Memórias são jóias raras e caras, não basta estar lá para obtê-las. Há de se participar do momento, por inteiro, mesmo que ninguém note, porque você assim o quis, sendo apenas mais um objeto na cena da história. Assim é o fotógrafo, mas o que poucos percebem é que desse jeito torna-se história viva, porque além da imagem tátil, possui a volátil que só em sua mente se confina.
Mas quando ele resolve contar toda sua experiência, colocar no papel todas suas memórias, vívidas dentro das fotos e vividas fora delas, nada supera suas histórias, de vidas, pois não há como se fazer objeto indireto na cena, torna-se mais que pretérito imperfeito, faz-se presente e molda-se futuro do pretérito mais que perfeito, pois é dona do momento e seus detalhes, que agora entram, por sua pena, para o sempre da história.
Zélia Gattai era fotógrafa do futuro sem saber, guardou imagens na memória e em álbuns fotográficos até completar 63 anos, quando então começou a nos presentear com todas elas, através dos livros que escreveu.
E isso tudo só se deu porque ela era Anarquista, graças a Deus!
Joakim Antonio
"Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, às amarguras, aos rancores." - Zélia Gattai
Zélia Gattai Amado (São Paulo, 2 de julho de 1916 — Salvador, 17 de maio de 2008) foi uma escritora, fotógrafa e memorialista (como ela mesma preferia denominar-se) brasileira, tendo também sido expoente da militância política nacional durante quase toda a sua longa vida, da qual partilhou cinquenta e seis anos casada com o também escritor Jorge Amado, até a morte deste.
Durante 56 anos, Jorge Amado foi meu marido e meu mestre. O que sei com ele aprendi. Juntos, corremos mundos, percorremos os mais distantes países, os mais belos e estranhos.
Num navio-gaiola, atravessamos a Floresta Amazônica. Numa tenda, em pleno deserto de Gobi, na Mongólia, nos abrigamos de um vendaval de areias escaldantes. Enfrentamos um maremoto numa travessia no Mar do Norte. Num avião Concorde, rompemos a barreira do som. Descobrimos em céus de outros países e em surpreendentes galáxias as mais belas estrelas. Conquistamos amigos, personalidades as mais representativas de nossa era, companheiros maravilhosos.
Leitora entusiasta de Jorge Amado, Zélia Gattai o conheceu em 1945, quando trabalharam juntos no movimento pela anistia dos presos políticos. A união do casal deu-se poucos meses depois. A partir de então, Zélia Gattai trabalhou ao lado do marido, passando a limpo, à máquina, seus originais e o auxiliando no processo de revisão.
Aos 63 anos de idade, começou a escrever suas memórias. O livro de estreia, Anarquistas, graças a Deus, ao completar vinte anos da primeira edição, já contava mais de duzentos mil exemplares vendidos no Brasil. Sua obra é composta de nove livros de memórias, três livros infantis, uma foto biografia e um romance. Alguns de seus livros foram traduzidos para o francês, o italiano, o espanhol, o alemão e o russo.
Ao lançar seu primeiro livro, Anarquistas graças a Deus, Zélia Gattai recebeu o Prêmio Paulista de Revelação Literária de 1979. No ano seguinte, recebeu o Prêmio da Associação de Imprensa, o Prêmio McKeen e o Troféu Dante Alighieri. Anarquistas, graças a Deus foi adaptado para minissérie pela Rede Globo e Um chapéu para viagem foi adaptado para o teatro.
Em 2001, foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, para a cadeira 23, anteriormente ocupada por Jorge Amado, que teve Machado de Assis como primeiro ocupante e José de Alencar como patrono. Fontes: Wikipédia, Fundação Casa de Jorge Amado
Para saber mais:
- Acervo fotográfico com cerca de 40.000 fotografias, todas de autoria de Zélia Gattai em http://www.zeliagattai.org.br/
Grande postagem, Joakim, própria de quem está atento aos pormenores que contam.
ResponderExcluirAbraço
Oie, gostei muito do site, eu gostaria de saber o porque do nome do livro? Obrigada :)(ANARQUSTAS GRAÇAS à DEUS)
ResponderExcluirNuma análise rápida, podemos dizer que, "Anarquistas, graças a Deus", não é apenas uma história de imigrantes italianos que chegam a uma São Paulo em desenvolvimento no século passado, vindo "Fazer a América" no Brasil, é a história da família Gattai.
ResponderExcluirO livro é um passeio pela memória de Zélia, de sua família e dos acontecimentos da época. Família esta que era muito particular, a dos chamados anarquistas, que pregavam uma sociedade sem leis, religião ou propriedade privada, com homens e mulheres tendo os mesmos direitos e deveres.
Os imigrantes também tinham a ideologia de ajuda mútua, onde todos tinham mérito pelas vitória, sendo bons companheiros e amigos, lutando em conjunto em prol do bem comum.
Então Zélia, sendo descendente de anarquistas e grata por ter sido criada dentro de seus valores, além de ver o que a vinda deles ao Brasil proporcionou, deixa explícito no título do livro, seu orgulho por esse movimento: Anarquistas, graças a Deus!