Em vez de escrever o livro, ele se tornou a história.
O sudeste teima em desafiar o nordeste, tentando esfriar o sangue caboclo que não se deixa apagar. O nordestino é um forte e não teme a morte, louvando a vida em detalhes e atento a toda paisagem, onde natureza e pessoas em cena, produzem mais do que podemos imaginar.
Fernando Faro é um desses caboclos, nascido em Sergipe e que não deixou São Paulo acinzentar sua visão. Estudante e jogador de futebol, quase nos foi tomado, mas o juízo da mãe o expulsou desse campo e no do Direito ele mesmo anunciou retirada, não sem antes descobrir que gostava de escrever.
Escreveu para jornais, passou para o rádio e depois para televisão, sua verdadeira casa, não sem dar uma passada pelas agências de propagandas. Um comunicador que traz em si a cultura que os nordestinos prezam tanto, música, dança, artes em geral e sempre, absorvendo em detalhes, o que de melhor as pessoas podem oferecer.
Como todo bom comunicador, é um ótimo contador de histórias, tão bom que nos brindou com suas lembranças devidamente enquadradas, pois de que adiantava ser memória viva deixando-nos de memória vazia, sem ver a beleza da mente de tantos músicos, suas pausas compassadas e respostas ritmadas. Então o menino, homem, caboclo, ficou conhecido por muitos como a voz que nos mostrava a beleza desconhecida de tantos outros.
Dizem que é preciso ser poeta para ver poesia em tudo, grande mentira, mas para ouvir o silêncio e reconhecer a poesia ouvindo suas notas antes de soarem, não importa o que digam, é preciso ser poeta, talvez por isso Faro encontrou em Vinícius de Moraes um grande amigo, daqueles que nos dão força para continuar e também nos ajudam a mandar tudo para a Tonga da Mironga do Kabuletê.
Segue por quase cinco décadas fazendo poemas, onde os próprios poetas são as linhas declamadas e o importante são as pausas que antecedem o canto. O erro nunca foi tão belo e o silêncio nunca tão harmonioso, como quando passa por sua visão e nos é repassado pelas suas mãos.
Se também parássemos para observar, veríamos que há acima de tudo um princípio e por Baixo, um lema: Como a vida. Talvez porque lá no fundo, ele que é muito mais sábio que nós, descobriu que depois há algo muito maior nos esperando e isso tudo, é apenas um Ensaio!
Joakim Antonio
“Eu só sei que, de repente, comecei a achar o erro bom e bonito. ‘Não, eu desafinei, dá para voltar?’, ‘Dá!’. Aí voltávamos. Mas eu deixava o erro.”
Fernando Faro é produtor musical, criador do antológico programa Ensaio, da TV Cultura. Nasceu em Aracaju (SE) e tem 83 anos. Desde os anos 60, cria e produz shows e programas de TV para artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Elis Regina. Foi o criador do tom documental do Ensaio, que priorizava os closes em partes do corpo e rosto dos entrevistados. Ficou famoso também por incluir os erros de gravações na edição final, fazendo isso de forma simpática. Em 2007, para comemorar os 80 anos do produtor, a Fundação Padre Anchieta lançou a biografia de Faro, “Baixo”, cujo título é uma referência ao termo usado para chamar qualquer um à sua volta: “Ô, baixo!”
“Daí começou aquele negócio de fazer a pergunta sem ninguém ouvir e dar as respostas, porque eu estava com o Jorge [cinegrafista] na delegacia e tinha um microfone para ele – e eu não tinha microfone. Então eu fazia pergunta, ele respondia. Eu peguei o material e levei para a TV Paulista. Ouvi: ‘Pô, isso dá para usar, legal!’.”
“Eu vejo o artista como um ser humano e é isso que eu tenho a intenção de pegar nele, esta coisa humana. Então isso é que eu vejo. A gente tem que fazer a entrevista, a música, mas lembrando o seguinte: os dadaístas faziam aqueles congressos, aquelas reuniões nos bares ‘abaixo o Dada, viva a vida’.”
Veja também: Site Produção Cultural com diversos links sobre Fernando Faro
Essa postagem foi uma sugestão do amigo Poeta da Colina em comemoração aos 85 anos de Fernando Faro.
Essa postagem foi uma sugestão do amigo Poeta da Colina em comemoração aos 85 anos de Fernando Faro.
De vez em quando por um almoço ou outro pela cultura lá está o baixo e seus fieis escudeiros. Ele caminha sem pressa, não pela idade. Tem gente que não precisa.
ResponderExcluirParabéns Fernando Faro!
Lindo post!