terça-feira, 12 de novembro de 2013

Polemizando - Descortinando Bruno Tolentino (poeta)



Quando leio versos que divergem por não convergirem aos interesses, quando leio polêmicas causadas por  prosas que ousaram falar mal da rosa, quando ouço palavras que contradizem o pensamento vigente da cena cultural engessada e repaginada, eu começo a contestar meus poemas engavetados e debater com meus textos, na vã tentativa de chegar a um consenso de porque eu deveria tentar publicar palavras avessas ao clero, quase endeusado, que manda e desmanda apontando o dedo para debaixo das asas e dizendo, "Esse poeta é maravilhoso.", enquanto aponta o dedo para o povo e diz, "Venham a mim todos que concordam, pois esses talvez, quem sabe e por sorte, serão publicados."

Eu olho para o passado e vejo apenas um abaixo-assinado autografado, como fosse quadro a ser leiloado no futuro e com a esperança de que ao colocar o nome de um poeta no cabeçalho, houvesse a possibilidade dele ser abaixo-assassinado por palavras, parece que se esqueceram do que tanto pregavam e do ditado que diz que ao apontar um dedo para alguém, contra você apontam três.

Mas grandes poetas trazem consigo um vírus feito de palavras que se espalham e têm o poder de transformar outros em poetas também, o triste é que há mais vozes por ele depois de ter partido, não por terem ficado calados, mas por a música ser tão alta que não puderam ser ouvidos.


Joakim Antonio


RESPONSABILIDADES - Bruno Tolentino

Ah, o país dos poetas! Quanto mais
improvável aqui, no pobre agora
dos desastres morais, quanto mais fora
das probabilidades do fugaz,
quanto mais sujo, mais doente, mais
esquecidiço, quanto mais demora
a aparecer esse país, a hora
de defender-lhe as torres ancestrais,
as coisas que fundaram esta linguagem,
ou a replantaram aqui nesta paisagem
insultada mas certa do que é,
a hora de erigir-se alguma fé
faz-se mais clara e cheia de coragem
que obriga a não ceder, a fincar pé!


Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940 — São Paulo, 27 de junho de 2007) foi um poeta brasileiro.
Vida e obra

Nascido em 1940, numa tradicional família carioca, conviveu desde criança com intelectuais e escritores próximos à família, entre eles Cecília Meireles (a quem o poeta sempre se referiu carinhosamente como Tia Cecília), Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Primo do crítico literário brasileiro Antonio Candido e da crítica teatral Bárbara Heliodora, seu trisavô, Antônio Nicolau Tolentino, foi conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal. Foi instruído em inglês e francês ao mesmo tempo de sua alfabetização no português.

Bruno Tolentino recebeu o Prêmio Jabuti três vezes pelos livros "As horas de Katharina" em 1995, "O mundo como ideia" em 2003 e "Imitação do amanhecer" em 2007. "A balada do cárcere", recebeu os prêmios Cruz e Souza de poesia, em 1996, e o Abgar Renault, em 1997.

Em 2003 recebeu o Prêmio José Ermírio de Moraes da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Era considerado polêmico e em entrevista a Revista Veja, criticou Caetano Veloso, Chico Buarque. Trocou ofensas com críticos literários do Brasil e professores de filosofia da USP.

Livros publicados

  • Anulação e outros reparos (São Paulo: Massao Ohno, 1963)
  • Le vrai le vain (Paris: Actuels, 1971)
  • About the hunt (Oxford: OPN, 1979)
  • As horas de Katharina (São Paulo: Companhia das Letras, 1994)
  • Os deuses de hoje (Rio de Janeiro: Record, 1995)
  • Os sapos de ontem (Rio de Janeiro: Diadorim, 1995)
  • A balada do cárcere (Rio de Janeiro: Topbooks, 1996)
  • O mundo como Ideia (São Paulo: Globo, 2002)
  • A imitação do amanhecer (São Paulo: Globo, 2006)

Citações sobre sua obra

(Publicadas na edição de "As Horas de Katharina", Companhia das Letras)

"Um dos melhores poetas da atualidade, ele é sem dúvida um 'daqueles poucos' que fazem a cultura de uma época." (Yves Bonnefoy)

"Há muitos anos admiro em Bruno Tolentino um poeta de raro talento respaldado por uma vasta cultura, que abrange diversas línguas e diversas literaturas. Tanto esse conhecimento como essa experiência fazem da sua uma das mentes mais bem equipadas para abordar o problema da poesia em nosso tempo." (Jean Starobinski)

"Seus poemas exalam uma dor tão justa que só sua perfeição formal torna suportável." (Saint-John Perse)


Para saber mais:

Um comentário:

"Quando escrevo minhas idéias tornam-se a pena e minha alma a tinta, por isso quando você lê, você me sente."

Deixe-me saber o que você sente.

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