sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O centenário grapiúna - Descortinando Jorge Amado (escritor)


Oia lá, lá vem o bom baiano, vem andando sem pressa, nos seus, também bons, cem anos; traz lápis e papel na mão, já na cabeça, chapéu panamá e pura inspiração. Sabe de onde ele vem, vem de um grande país, O País do Carnaval, Cacau, Suor e lágrimas, de sincretismo religioso, onde vive o misterioso Jubiabá.

Esse bom baiano é mestre das águas, já navegou pelo Mar morto, guiando Capitães da areia e declamando poesias, apresentando a eles A estrada do mar. Ele sabe de cor o ABC de Castro Alves e também luta, assim como O cavaleiro da esperança, daqui até essas Terras do Sem-Fim, chegando em São Jorge dos Ilhéus e passando pela Bahia de Todos os Santos, que ele conhece como a palma da mão. Apresentando os lutadores da Seara vermelha, buscadores de melhores condições de vida, ganhando o pão diário e buscando O amor do soldado, que não é viver em guerra e sim buscar O mundo da paz, seja aos olhos de todos, ou percorrendo Os subterrâneos da liberdade.

Apreciador da beleza feminina, nunca nos deixou esquecer Gabriela, cravo e canela, menina brejeira e simples, que é leve como a brisa e forte como o furacão. Talvez sabendo que se eternizaria, não tinha medo de falar da morte, em especial, A morte e a morte de Quincas Berro d'Água.

Era amigo de todos, entre eles, os capoeiras do terreiro, Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso, Os pastores da noite e o O Compadre de Ogum, talvez até esse último tenha notado primeiro, o que havia entre Dona Flor e Seus Dois Maridos. Também fez vários amigos na Tenda dos milagres, onde, a boca pequena, corria a história de Teresa Batista cansada de guerra.

Grande observador da vida sempre dizia a sua filha, “O mundo só vai prestar, para nele se viver, no dia em que a gente ver casar, O gato Malhado e a andorinha Sinhá. Saindo os dois a voar, o noivo e sua noivinha, Dom Gato e Dona Andorinha.”; já para os adultos, adorava contar a volta e as reviravoltas que causara Tieta do Agreste, inclusive para seus pares da academia, mesmo não gostando de usar o que lá era moda, a Farda, fardão, camisola de dormir, que lá era obrigatória.

Desejava a todos liberdade de ser, assim como a natureza e, Do recente milagre dos pássaros, tudo sabia o grande homem do litoral, que nunca deixaria de ser O menino grapiúna, que se alegra e ri alto, de histórias divertidas como A bola e o goleiro, que lhe tiravam do universo sombrio da Tocaia grande, fazendo com que espairecesse e não pensasse em nada mais, não se preocupando nem com O sumiço da santa.

Gostava de lembrar-se dos bons tempos, da Navegação de cabotagem, e puxar conversa sobre a cultura árabe, que ele chamava de A descoberta da América pelos turcos, influenciando não só a cultura baiana e brasileira, mas também o mundo, se houvesse tempo, falaria sobre O milagre dos pássaros, histórias da Hora da Guerra, que só ele sabia contar.

No final, nenhuma história acabou, ninguém morreu, alguns choraram, mas todos, sem exceção, sorriram por poderem se deliciar com as histórias do grande, ou melhor, eterno grapiúna; que trazia no nome um delicioso destino.

Parabéns, Amado Jorge e obrigado!




Jorge Amado nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado.

Com um ano de idade, foi para Ilhéus, onde passou a infância. Fez os estudos secundários no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga, em Salvador. Neste período, começou a trabalhar em jornais e a participar da vida literária, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes.
Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.

Foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira de número 23, da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de Assis.

A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba em várias partes do Brasil. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em formato de audiolivro.

Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado conforme seu desejo, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência na Rua Alagoinhas, no dia em que completaria 89 anos.

A obra de Jorge Amado mereceu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre os quais destacam-se: Stalin da Paz (União Soviética, 1951), Latinidade (França, 1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov (Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria de Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França, 1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti (Itália, 1995), Luis de Camões (Brasil, Portugal, 1995), Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura (Brasil, 1997).

Recebeu títulos de Comendador e de Grande Oficial, nas ordens da Venezuela, França, Espanha, Portugal, Chile e Argentina; além de ter sido feito Doutor Honoris Causa em 10 universidades, no Brasil, na Itália, na França, em Portugal e em Israel. O título de Doutor pela Sorbonne, na França, foi o último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua última viagem a Paris, quando já estava doente.

Jorge Amado orgulhava-se do título de Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá, na Bahia.

Foto e Biografia: Fundação Casa de Jorge Amado (clique para ler a biografia completa)
Links para os livros contantes no texto: Wikipédia
Para saber mais detalhadamente sobre as obras: Jorge Amado

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