sexta-feira, 12 de junho de 2015

Realidade


Moleque safado, roubou o mercado. Doriana dentro da calça, Claybom por baixo da camisa. Saiu correndo em desespero e parou na esquina. Ofegante, suado, ainda com os olhos estatelados, de medo, enquanto o segurança gritava, "Eu ainda te mato, seu porcaria.".  Seu cheiro era sem tamanho, mistura de comida da lixeira e dias sem banho. Mas agora sim, usaria seu dom artístico para mudar seu destino. Cansou de fazer esculturas, em sobras de feira, que ninguém queria.

Jogou os potes na calçada, encheu a mão naquele engordurado gelado e esculpiu de qualquer jeito, uma mulher, um homem, duas crianças, um cachorro e uma casa ampla. Logo depois, se acalmou, rezou pro Dono das ruas e dormiu diante sua obra prima. Acordou com o sol a pino, mais sujo que de costume, quase que recoberto por sua criação. Não foi como nos desenhos, onde a comida anda, nem foi como nos contos de fada, onde desejos viram realidade. Foi sim, exatamente como lá no fundo já esperava e entendia.

Não é dado aos rejeitados, ter uma família de margarina.

Joakim Antonio​


Imagem: Homeless by sifu

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