quinta-feira, 29 de abril de 2010

L.E.R. – Lendo Escutando e Recontando – Parte Final


Se for a primeira vez que você está lendo sobre esse artigo, convido-o a visitar os artigos anteriores: primeira, segunda e terceira parte, antes do final onde falarei sobre recontar. 

“Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo, que sempre foi a minha busca cega e secreta.” Clarice Lispector

A história é viva, a palavra é viva, sempre ouvimos falar sobre isso, mas o que a mantém viva?
Já se perguntou como a história se manteve quando não havia jornais e internet, ou nos lugares onde a verdade foi proibida por certos governantes? Como se aprende algumas das coisas proibidas na China ou se descobre notícias antes de publicadas? E os grandes mestre da antiguidade, alguns pregando livremente, outros ensinando em antigas sociedades secretas ou como Dell Debbio costuma dizer “atualmente sociedades discretas”, como as histórias se mantém circulando por séculos?

Num primeiro pensamento diríamos, porque estão devidamente registradas escritas e guardadas, mas pense em quantos livros foram escritos e talvez nem saiam das gavetas dos seus autores.

Uma história contada pode-se dizer nascida, mas sós as recontadas continuam vivas!


Gostamos muito de falar é óbvio, senão o que é sucesso hoje não passaria do primeiro dia, recontamos o filme, a partida de futebol, notícias dos jornais, histórias que escutamos sejam reais ou imaginárias. O ato de passar uma história a frente mantendo-a viva é muito forte e poderoso, qual de nós não ouviu dizer que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade, vocês já viram como as fofocas vendem mais que outras notícias?

Acostumamos a falar que contamos histórias, por isso não nos atentamos ao fato de que, na maioria das vezes, estamos recontando a história. Um cantor aprende a música e nos reconta ela cantando, ou melhor, recantando-a lindamente e o que dizermos então dos atores, que nos recontam a história através de suas encenações. Humoristas recontam piadas e se puder dão uma apimentada e a parte que mais gosto, contadores de histórias recontam para alegrar a criançada.

Para o escritor recontar é um dos, senão o principal meio usado para escrever. Em um romance, por exemplo, ao criar a historia ele visualiza o local, os personagens, imagina roupas, cenários, quem morrerá ou viverá, apaixonar-se-á ou não, suas personalidades como herói ou vilão e depois reconta a historia para nós através das linhas no papel.

Quando lemos uma história que vale a pena ser contada, sabemos que o escritor conseguiu nos passar sua visão interior de um modo que afeta a nossa prazerosamente. Uma visão interior mais abrangente do mundo que nos cerca vem do o ato de ler plenamente, assim como qualquer um pode fazer usando os princípios destacados nessa série de artigos sobre a arte de L.E.R.: 

Lendo muito e sentindo o texto, absorvendo a essência dele, entendendo o porquê de cada detalhe.

Escutando as palavras do personagem ou do contador da história, sentindo tudo real e além do imaginário.

Recontando a história e acrescentando o seu olhar a ela, seus sentimentos, o que ela lhe passou e ensinou.

Recontar é primeiro passo de uma história viva que dará voltas ao mundo, reconte seus passos, sua vida, o filme, a piada, enfim, todas as histórias que lhe deram prazer, mostre aos outros do que você está sendo formado e depois, através de suas próprias histórias, nos mostre quem é você!


Joakim Antonio

Esse texto é a parte final de um artigo dividido em quatro partes para ser publicado no site Prosa em Verso, você encontrará as três primeiras partes na Coluna Visão Interior.

domingo, 25 de abril de 2010

Lágrimas


Qual o gosto de uma lágrima? Alguns juram que é salgada.

Quando ela surge de repente, durante o momento de desejo, bem no meio do beijo, passando dos olhos de um amante pro outro e aí o que você me diz, qual será o gosto?
Quando lhe perguntam, do choro, a causa e você ri, porque na verdade não tem resposta, naquela hora a lágrima simplesmente rola, explode e escorre pelo rosto e vai descendo pelo pescoço, molhando até a roupa, qual o gosto que ela deixa na boca?
Quando o filho pergunta porque o pai chora, depois de chegar do trabalho, cansado, mãos cheias de calos, pés apertados no sapato e ao abrir a porta, ser recebido praticamente com um alegre escândalo, de alguém que pula, ri, abraça e diz, "papai eu te amo", imagine e pense, que gosto esse pai sente?
Quando pessoas ajudam em momentos angustiantes, que fazem o outro chorar no mesmo instante, pela ajuda, pelo carinho, que nem sonhava existir, seu choro tanta alegria passou que ao abraçá-lo você também chorou e os dois chorando muito, qual será o gosto que sentiram juntos?

Qual o gosto tem uma lágrima? Alguns juram que é salgada.

Mas refletindo sobre tudo isso hoje. Eu juraria que é doce.

Joakim Antonio

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cuidando

Costumo acordar criança com sorriso aberto, olhar terno e admiração estampada no rosto. Começando a tarde, mais precisamente na hora do almoço, viro garoto, todo agitado, olhar abobado e excitação estampada no corpo. A noite o homem chega e toma conta do momento, então sou braços abertos, colo disposto e ouvidos atentos.

Menos hoje. Acordei e você disse que não estava legal, então a criança dormiu, o garoto saiu e só o homem ficou. Ficou olhando você dormir para ver se já tinha melhorado, colocando as mãos para sentir se a febre tinha voltado, bravo por terem vindo ver se estava bem, mas terem lhe acordado, fechando as cortinas para o sol não lhe incomodar, fazendo o café da tarde e chamando atenção, mesmo sem você gostar.

Nesse momento você está deitada, serena, o mundo roda a nossa volta, o homem te olha e você é minha criança agora.

Joakim Antonio

sábado, 17 de abril de 2010

Agradecendo


Era um menino gordinho, mas não a ponto de ser obeso, diziam que era fortinho e digamos que estava de sobrepeso. Como todos de sua idade não dispensava um brinquedo, gostava mais dos de madeira, porque por suas mãos eram feitos. Alguns eram bem simples, na verdade simples até demais, duas ripas pregada em cruz eram o avião de um ás. Adorava bolinhas de sabão pois era fácil obtê-las, precisava de apenas um arame em forma da letra pê,  um pouquinho de OMO e o ar dos pulmões para fazê-las. Um dia disse a mãe que queria ser lixeiro, ela até tentou dissuadi-lo, mas quem conhece teimosia de criança entende o porquê dela ter desistido. A mãe sempre dizia para não pular em cima da cama, mas como iria dar pulos acrobáticos brigando com seus amigos imaginários e além do mais nunca quebrou um osso, apenas uns cinco estrados. Chorou muito, mas muito mesmo, quando aquilo aconteceu, acho que quase a água do corpo inteiro, no dia que seu pai morreu, mas sorriu muito, muito mesmo, com as lembranças que ele lhe deu. Gostava de fantasiar aventuras e cenas de cinema, que readaptava com seus amigos, encenavam e quando juntam-se de novo, sempre riem-se uns dos outros, relembrando apenas coisas alegres, nunca desgostos. Sempre achou e ainda acha engraçado, quando as pessoas comentam que era alegre com muito pouco, porque até hoje o menino acha que sempre teve mais do que precisava.

"Nós temos mania de reclamar só do que não tivemos e nos esquecemos de agradecer pelo tudo que ainda temos."



Joakim Antonio

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Trem


Da janela eu vejo a mata, o sol azul, um edifício não acabado, a praça. Todo dia um trem passa apitando na mesma avenida aonde os carros vão passando, contrastes da modernidade. A avenida para, as pessoas nem ligam, estão acostumadas com isso, mas a minha mente para nesse momento, como se o apito do trem me chamasse a viajar. Minha namorada disse que eles não deixam viajar no trem, ainda não estou convencido, a estação continua lá, no mesmo lugar que o trem insiste em parar, todo dia, me olhando, chamando a passear. Já pensei em ir correndo e falar com o maquinista, será que ele vai me achar muito louco, na verdade nem pensei no que ele vai achar. Calma, antes que vocês digam algo, ele passa muito lentamente, não há perigo. Hoje pela manhã as crianças saíram para passear e fui convidado também, até pensei em ir, quando ouvi falar em trem, mas desisti e saí de mansinho, ninguém percebeu que corei ao saber que era um trenzinho. Viajei doze horas para chegar aqui, mas não me importaria se levasse dois dias e sei que teria muito mais graça, se a viagem fosse numa Maria Fumaça. Toda vez que vou até o mercado e passo sobres os trilhos, meus olhos ganham um novo brilho. Na primeira segunda feira que estava aqui, fui conhecer a cidade de ônibus com a dona Geni e agora uma idéia me vem à mente, será que se eu pedir como as crianças, a vovó me leva pra andar de trem?


Joakim Antonio 


O Trem - Publicado 11 de abril de 2010 no Manufatura - Literatura feita de maneira artesanal.
CLIQUE AQUI para ler os outros manufatores, cada dia uma nova e boa leitura!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Titio...titio...



Sabe aqueles momento em que a tv absorve você? Foi mais ou menos assim.

Sentado na sala, assistindo tv e tomando um delicioso cafezinho passado na hora, a mãe preparava um lanche na sanduicheira, as crianças brincavam no chão e riam sem parar, a vó deitada no sofá estava tão imersa no programa quanto eu, o irmão maior começou a falar algo, mas ninguém lhe deu atenção, não de propósito, mas por causa da tv que às vezes nos toma momentos bons. Ele começou a aumentar o tom de voz até começarmos a ouvi-lo, eu e a vó olhamos na mesma hora como se ele tivesse se machucado, só aí entendi que ele estava falando "titio..titio..titio..". Falei somente "oiii" e ele me respondeu baixinho, com as mãos em forma de concha em frente a boca, "quero contar um segredo", abaixei um pouquinho e ele falou no meu ouvido, "eu te amo" então o abracei e falei, "eu também te amo".


No mesmo momento pensei na tia deles, a , e também disse baixinho "eu amo você", se não estivesse aqui na sua casa agora, como eu viveria esses momentos felizes que estou tendo até quando você não está em casa.

"A felicidade é como um quebra-cabeças, se você se descuidar, acaba perdendo algumas pecinhas."

Joakim Antonio

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Plantando Girassóis



É assim que vejo você, a criança que sempre foi, plantando seu girassol. Apenas um, mas do tamanho do mundo, um girassol cheio de sonhos seus e de todos que confiaram em você, acreditando no seu sonho que era maior que todos nós. Você conseguiu fazer de cada um de nós, um novo cultivador de girassóis.

Vejo você sorrindo, incentivando, um verdadeiro exemplo de como as palavras podem ser bem usadas, então eu, o homem das palavras, me sentia sem nenhuma para comentá-la e você sempre dizia "não se preocupe eu não ligo pra isso"; o menino que não cresceu, sentia-se crescendo cada vez que você me elogiava e dizia, "não agradeça plante girassóis".
Nunca recebi um não, sempre um "eu entendo como é isso","resolve tudo por aí, tranquilo", etc.

Quanto ao poeta o que usar? Rimas infantis, diretas, simples com sílabas contadas ou simplesmente jogadas, redondilhas, sextilhas? Poderia ser um soneto italiano ou quem sabe Shakespeariano?
Não importa as rimas, a métrica
a dis
      po
          si
            ção
a ordem,

importam sim as palavras certas
palavras estas que você dominou e nos mostrou, como usá-las com amor.

Tatiana Monteiro a menina que continua plantando girassóis!

Você merece aplausos de pé!

Joakim Antonio

sábado, 3 de abril de 2010

Constatações


O silêncio guarda sons e tons que poucos podem ouvir, portanto nenhuma cena é muda e vale muito mais que mil palavras, sendo todas sagradas e nenhuma realmente chula, pois até um palavrão é bom se for o momento certo.
Palavras mudam o sentido conforme o ouvido e são recontadas de maneira diferente, mais pobres ou mais rebuscadas, conforme a pessoa que irá repassá-las.
Toda história merece ser escrita, por mais simples e comuns que sejam os fatos, fazem parte da vida e serviremos de exemplo para ser ou não imitado, tudo depende do que fizermos e para onde o dedo for apontado.
Todas as linhas continuam além, em você que leu, em quem ouvirá e em quem escreveu, pois nenhuma história realmente acaba no ponto final.

Joakim Antonio

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um novo espetáculo


A cada manhã o sol descortina um novo dia cheio de oportunidades, mas temos que ficar atentos, prestar atenção nos sons à nossa volta, ler as entrelinhas dos acontecimentos e usar um olhar diferente. Olhar de criança que nunca perde a esperança em realizar e ter, tudo que possa imaginar. Tudo é novo, tudo é brinquedo e todos são amigos e parceiros no brincar. Eles brincam, brigam, rolam no chão, choram e fazem as pazes, e a cada novo dia, estão prontos a desvendar a mágica da vida que alguns de nós conseguiram esquecer. E assim seguimos a vida, acreditando que a felicidade é uma utopia e contos de fadas até existem, mas são muito raros de acontecer.

Tem que ter sorte, você irá dizer, e eu sou obrigado a concordar com você, a diferença é que sei que a sorte acompanha os valentes, os que estão na linha de frente e dão a cara a bater, fazem coisas que eram inimagináveis e por isso mesmo fazem o mundo acontecer.

Um dia eles olharam para o mundo e viram algo que não gostaram, então decidiram fazer;

Um novo espetáculo!

Joakim Antonio




Imagem: Red curtain by Allfreedownload

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...